Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas

Aprendizagem,
Ensino, Avaliação

Conselho da Europa. (2001). EDIÇÕES ASA, COLECÇÃO: PERSPECTIVAS ACTUAIS/EDUCAÇÃO: Porto.

Níveis Comuns de Referência: escala global (p.49)
Quadro Europeu Comum de Referência (QECR)
Utilizador
proficiente
C2

É capaz de compreender, sem esforço, praticamente tudo o que ouve ou lê. É capaz de resumir as informações recolhidas em diversas fontes orais e escritas, reconstruindo argumentos e factos de um modo coerente. É capaz de se exprimir espontaneamente, de modo fluente e com exactidão, sendo capaz de distinguir finas variações de significado em situações complexas.

C1

É capaz de compreender um vasto número de textos longos e exigentes, reconhecendo os seus significados implícitos. É capaz de se exprimir de forma fluente e espontânea sem precisar de procurar muito as palavras. É capaz de usar a Iíngua de modo flexível e eficaz para fins sociais, académicos e profissionais. Pode exprimir-se sobre temas complexos, de forma clara e bem estruturada, manifestando o domínio de mecanismos de organização, de articulação e de coesão do discurso.

Utilizador
independente
B2

É capaz de compreender as ideias principais em textos complexos sobre assuntos concretos e abstractos, incluindo discussões técnicas na sua área de especialidade. É capaz de comunicar com um certo grau de espontaneidade e de à-vontade com falantes nativos, sem que haja tensão de parte a parte. É capaz de exprimir-se de modo claro e pormenorizado sobre uma grande variedade de temas e explicar um ponto de vista sobre um tema da actualidade, expondo as vantagens e os inconvenientes de várias possibilidades.

B1

É capaz de compreender as questões principais, quando é usada uma linguagem clara e estandardizada e os assuntos lhe são familiares (temas abordados no trabalho, na escola e nos momentos de lazer, etc.) É capaz de lidar com a maioria das situações encontradas na região onde se fala a língua-alvo. É capaz de produzir um discurso simples e coerente sobre assuntos que lhe são familiares ou de interesse pessoal. Pode descrever experiências e eventos, sonhos, esperanças e ambições, bem como expor brevemente razões e justificações para uma opinião ou um projecto.

Utilizador
elementar
A2

É capaz de compreender frases isoladas e expressões frequentes relacionadas com áreas de prioridade imediata (p. ex.: informações pessoais e familiares simples, compras, meio circundante). É capaz de comunicar em tarefas simples e em rotinas que exigem apenas uma troca de informação simples e directa sobre assuntos que lhe são familiares e habituais. Pode descrever de modo simples a sua formação, o meio circundante e, ainda, referir assuntos relacionados com necessidades imediatas.

A1

É capaz de compreender e usar expressões familiares e quotidianas, assim como enunciados muito simples, que visam satisfazer necessidades concretas. Pode apresentar-se e apresentar outros e é capaz de fazer perguntas e dar respostas sobre aspectos pessoais como, por exemplo, o local onde vive, as pessoas que conhece e as coisas que tem. Pode comunicar de modo simples, se o interlocutor falar lenta e distintamente e se mostrar cooperante.

5. AS COMPETÊNCIAS DO UTILIZADOR/APRENDENTE (pp.156-157)

5.2. Competências comunicativas em língua
A competência comunicativa compreende as seguintes componentes:
• competências linguísticas;
• competências sociolinguísticas;
• competências pragmáticas.

5.2.1. As competências linguísticas

Não existe até ao momento nenhuma teoria linguística geral que seja objecto de uma aceitação generalizada. Os sistemas linguísticos são de uma enorme complexidade e a língua de uma sociedade alargada, diversificada e avançada nunca é completamente dominada por nenhum dos seus utilizadores. Nem isso seria possível, já que as línguas se encontram sempre em constante evolução para responder às exigências do seu uso na comunicação. A maioria dos Estados-nação tentou definir uma norma, embora nunca o fazendo de modo muito pormenorizado. Para a sua apresentação, o modelo de descrição linguística em uso para o ensino é ainda o mesmo modelo usado para as línguas clássicas, mortas há muito tempo.

Este modelo ‘tradicional’ foi, contudo, rejeitado há mais de 100 anos pela maioria dos linguistas profissionais, que defendiam que as línguas deveriam ser antes de mais descritas tal como são usadas e não como uma qualquer autoridade acha que elas deveriam ser; além disso, considerou-se que o modelo tradicional, tendo sido desenvolvido para línguas de um tipo particular, era inadequado para a descrição de
sistemas línguísticos com uma organização muito diferente. Contudo, nenhuma das muitas propostas de modelos alternativos teve uma aceitação generalizada. Na verdade, foi negada a possibilidade de um modelo universal único de descrição para todas as línguas. Os trabalhos mais recentes sobre os universais linguísticos ainda não produziram resultados directamente utilizáveis na aprendizagem, no ensino e na avaliação das línguas.

A maioria dos linguistas descritivos contenta-se em codificar a prática, relacionando a forma e o significado, utilizando uma terminologia que se afasta da prática tradicional apenas onde tal é necessário para tratar os fenómenos exteriores à gama de modelos de descrição tradicionais. É esta a abordagem que é adoptada na secção 5.2. Tenta identificar e classificar as componentes principais da competência linguística, definida como o conhecimento de recursos formais a partir dos quais se podem elaborar e formular mensagens correctas e significativas, bem como a capacidade para os usar. (...)

O esquema seguinte pretende apenas apresentar como ferramentas de classificação alguns parâmetros e categorias que podem ser úteis para a descrição do conteúdo linguístico e como base de reflexão. Os profissionais que prefiram utilizar um outro quadro de referência devem sentir-se livres para o fazer, tanto aqui como em qualquer outra parte. Devem, nesse caso, identificar a teoria, a tradição e a prática que adoptam.

Distinguimos aqui:
5.2.1.1. Competência lexical;
5.2.1.2. Competência gramatical;
5.2.1.3. Competência semântica;
5.2.1.4. Competência fonológica;
5.2.1.5. Competência ortográfica;
5.2.1.6. Competência ortoépica.

(...)