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Quarta Manhã
Um ângulo da terra diante de mim
com o vértice no meu olhar.
Ora junta em montes
ora rasa nos vales
assim segue a terra até ao mar,
e antes ainda de lá chegar
a própria terra já parece o mar.
A luz do dia mostra a natureza
e os meus olhos vêem.
A minha imaginação dá respiração à natureza
e
de cor completa-a com o resto do redondo
o que além do ângulo à terra faltava.
Não só a paisagem os meus olhos viam
mas a terra inteira no seu verdadeido tamanho,
não como a possam ver os olhos
mas como a imaginação
tem modos de medição.
E mais do que a sua própria grandeza
eu via também,
via com os olhos e a imaginação
todas as idades da terra
em toda a sua duração.
Tudo começava lá, ao princípio,
num ponto:
um simples ponto sem dimensão,
e do qual partiam depois todas as linhas
todos os ângulos, cones e sectores
de uma esfera infinita
da qual a terra era uma pequena reprodução
e eu uma pequena reprodução da terra.
(…)
in Poesia 4 , José de Almada Negreiros |