CIEP - DGIDC---- 7, 8, 9 de Maio de 2007 --- Lisboa

Comunicação apresentada sobre o tema "A gramática na sala de aula "

"Aprender gramática, ler e escrever melhor"

Maria Armanda Costa (Universidade de Lisboa, Onset-CEL)

Resumo:

           Uma questão fundamental que se coloca a professores e investigadores é distinguir entre o conhecimento linguístico que a criança adquire naturalmente sobre a sua Língua Materna e o que deverá adquirir por via da aprendizagem. Para isso, é relevante discriminar entre conhecimento intuitivo e explícito e avaliar até que ponto se deverá progredir na explicitação e na formalização do conhecimento linguístico em favor do desenvolvimento cognitivo geral. Aspectos da metacognição, do conhecimento metalinguístico e da metalinguagem são incontornáveis na reflexão a fazer. Um outro aspecto a considerar é o da complexidade do conhecimento linguístico que intervém na compreensão e produção da língua e o modo como é usado em condições contextuais particulares, sob efeitos das modalidades oral e escrita e sob a actuação de recursos cognitivos limitados. Nesta perspectiva, interessa contrapor gramática e processamento, identificar as unidades linguísticas relevantes e o modo como são percepcionadas e integradas; daremos alguns exemplos extraídos de resultados de investigação sobre processamento de frases em tempo real por sujeitos monolingues e bilingues, portugueses e franceses.
            Os dados da investigação apontam para uma estreita relação entre o conhecimento linguistico e o desenvolvimento de competências de leitura e de escrita. Aprender a escrever com eficiência depende de um domínio explícito das estruturas da língua. Usaremos alguns exemplos da escrita emergente para demonstrar quanto a consciência fonológica de traços segmentais e supra-segmentais deverá ser trabalhada para assegurar uma escrita correcta, por exemplo, ao nível  ortográfico. Por outro lado, dados da escrita adulta mostram-nos como outros níveis de organização textual mais relacionados com a estrutura sintáctica, com consequências, por exemplo, na pontuação ou na estrutura informacional, poderão ser beneficiados por um conhecimento explícito da gramática da língua.
            Ler bem requer ter que ler, querer ler e gostar de ler. Mas também, e obrigatoriamente, conhecimento linguístico suficiente que permita ler. Conhecer a estrutura lexical das palavras em Português, para reconhecer propriedades morfossintácticas e aceder rapidamente ao seu significado, ou conhecer padrões de ordem de palavras, para predizer construções a interpretar e evitar ambiguidades, permitem a automatização de processos de tratamento local da informação e libertam recursos cognitivos para  a criação de um modelo de texto do domínio da interpretação. Dados da leitura oral de adolescentes mostram-nos como as estratégias de fraseamento que seguem de perto a estrutura sintáctica servem a leitura fluente.

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