À cintilante luz da árvore de Natal
Tenho frio e escrevo
Escrevo e olho para as prendas,
Embrulhos cujo interior é totalmente desconhecido.

A

Ó embrulhos! Ó luzinhas de Natal! Ó coisas cheias de purpurina!
Ansiedade e stress explodem dentro de mim,
Consome-me tanta comemoração
E estou farta da Leopoldina.

abóbora

Em desatino e caminhando nas ruas exageradamente concorridas
Vejo nas lojas a luxúria enfadonha das montras,
Subtilmente decoradas, requintadas e saturadas de bom gosto
Caminha por esta rua gentalha sofregamente consumista
É a correria natalíciaaaaaaaaa!
E enjoo-me de tanto contágio da época
É Natal! É Natal! É Natallllllllllllllllllll ! É NATALLLLLLLL !

anda ligada

Empurrando, afunilando, acotovelando, correndo de um lado para o outro,
Irritando-me com as canções de Natal,
Um Jingle-Bells e mais não sei o quê…

a tradições natalícias

Ó coisas! Ó objectos!

A abóbora anda associada às tradições natalícias

Inúteis e invulgarmente vulgares,
De plástico, metal, papel, vidro.
Os mercados e indústrias vendem, vendem, vendem
Vendem pinheiros, penduricalhos e presentes,
E eu sinto-me cada vez mais manipulada pelo espírito
Olá Natal! Olá presentes!

Generosidade e companheirismo à luz do capitalismo!
Não! Não! Nunca! Mas nunca irei desprezar a verdadeira essência do Natal

Ah, se eu ao menos acreditasse no Pai Natal!
Poder viver o Natal como uma criança!
Esperar ansiosamente pela meia-noite,
Acompanhar todos os segundos que passam
Penetrar-me no relógio e ouvir dentro de mim
Um tic-tac tic-tac tic-tac tic-tac tic-tac

Queria voltar a ter a ingenuidade da infância,
Para poder sentir a felicidade de ter um brinquedo novo.
Para acreditar que o Natal é a solução de todos os problemas!

"Os seus pergaminhos e atributos são inúmeros: vasos sagrados, contentores de sementes ou de remédios; baixela prática e duradoura, mas muitas vezes artisticamente decorada; instrumento musical que acompanha ritos sagrados e profanos; talismãs e símbolos presentes nos mais siginificativos momentos da vida humana; ingrediente popular e acessível mas que se torna indispensável na mesa de festas; inspiração de artistas e de artesãos; coche de Cinderela e máscara de meninos."

Ah, mas o Pai Natal não existe!
O Pai Natal que se conhece é o da Coca-Cola.
Sim, o velhinho é o da Coca-Cola.
Oh, francamente Pai Natal…
Tornaste-te uma peça de marketing!

Texto extraído de O B.I. da ABÓBORA, sobre a exposição com o mesmo nome, patente no Museu da Cidade, em Lisboa (8/11/2007 a 6/01/2008).

Ó sociedade contemporânea! Em que foi que transformaste o Natal?
Eu sei,
Foi na quinta-essência do consumismo capitalista!
Ó espírito de Natal!
O mundo fica estupidamente tocado por ti,
Desabrocham qualidades que durante o ano ficaram guardadas.
União fraterna! Sentimentos de paz! Ó bondade! Ó solidariedade!
Admiro-vos a todos,
A Vós, efémeros,
Mas não é só no Natal.

 

Rasguem-me como se fosse um embrulho!

 

Ahhhhhh! Este ano não mando SMS a ninguém …
Não há “Feliz Natal”, “Bom Natal”, nem nada que se assemelhe!
O que é o Natal sem presentes?
Oh meu deus! O Natal não precisa de presentes!

 

Sinto-me lamechas
E quero sentir excessivamente todo o afecto do mundo.
AMO-VOS! AMO-VOS! Amo todos os que têm o Natal no coração.
Os que não o têm, jamais o acharão debaixo da árvore!
Quero sentir em mim todas as mensagens de paz e amor,
Intensamente, ao mesmo tempo!

 

Ó bolo-rei! Ó filhoses! R-R-R-R-R-R-R-R-RABANADASSS !
As pessoas não mudam, são como as frutas cristalizadas…
Ai! Não! Não! NãoOOOOOOOOO! Este ano não como bacalhau.
A fava do bolo-rei ficou-me presa na garganta…

 

Ah! O Natal não é uma estação. É um sentimento!

 


 

Sara Afonso Mendes, aluna do Professor Luís Magalhães, no 12.º ano.
Porto, Dezembro de 2007.