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CARDEIRA, Esperança (2006). O Essencial sobre a História do Português, Ed. Caminho, Lisboa, (pp.93-95).
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ÍNDICE |
11 | Antes de mais... |
17 | Perguntas interessantes & respostas conhecidas |
19 | Falamos Português, porquê? |
19 | A romanização e o Latim vulgar |
26 | O papel dos substratos e superstratos |
39 | Como falava Afonso Henriques? |
39 | Reconquista e repovoamento: as origens de Portugal |
44 | Galego-português e Português Antigo |
57 | E Gil Vicente? E Camões? |
57 | O Português Médio |
65 | A expansão do Português |
69 | Do Português Médio ao Português Clássico |
75 | E depois? |
75 | Mudanças recentes no Português |
82 | Uma periodização da história da língua portuguesa |
87 | O Português não europeu: as novas normas |
97 | Glossário |
103 | Outras leituras |
A | |
O Português não europeu: as novas normas (excerto) Actualmente, os linguistas brasileiros defendem a especificidade de uma norma diversa da europeia mas parte integrante da língua portuguesa. Quando comparamos o léxico brasileiro com o do Português europeu notamos não só o enriquecimento que aquele sofreu como resultado do contacto da língua com outras culturas mas também os arcaísmos: vocábulos que, em Portugal, caíram em desuso são ainda correntes no Brasil (salvar ‘saudar’, função ‘festa’). Num cenário de cruzamento de tantas etnias e culturas, o Português ganhou, no
Brasil, uma personalidade própria. Uma cultura tão variada produziu uma
apetência para a inovação. Quando, agora, comparamos o Português europeu com o
brasileiro, notamos mudanças fonológicas como a semivocalização da lateral em
contexto final de sílaba ou palavra (salto sa[w)to, animal animal[w]), a
supressão ou reforço da vibrante final (amor am[o] ou amo[R]) ou a palatalização
das consoantes dentais antes de elemento vocálico palatal (tia [t[ʃ
O Português do Brasil, na sua aparente homogeneidade é, tal como o Português Europeu, um diassistema, com variação diatópica (a um conjunto de variedades do Norte, com vogais pretónicas abertas — dezembro d[ɛ]zembro, morar m [ #]rar — e nasalação vocálica antes de consoante nasal — chamar ch[ɐ̃]mar —, opõem-se as variedades do Sul) mas, principalmente, com variação diastrática. Nas cidades, o falar do brasileiro culto distingue-se da língua das camadas menos instruídas. No século XX, a urbanização, o crescimento económico e a explosão demográfica criaram um fosso profundo entre megalópoles e regiões subdesenvolvidas e entre as diferentes camadas sócio-culturais, fosso que é, também, linguístico. Assim, da linguagem popular fazem parte a simplificação da flexão nominal (os meníno, meus amigo) e verbal (eu sou, tu é, e/e é, nós é, eles é). Traços que são diastraticamente marcados (não aceites pela norma) são, também, o tratamento dado à lateral palatal, com despalatalização (mulher [mulɛ]) ou substituição pela semivogal ([mujɛ] ou pela vibrante (flamengo f[r]amengo). A
partir da sua implantação no Brasil, a língua portuguesa evoluiu de forma nem sempre coincidente nos dois países. Cabe, aqui, perguntar: o Português europeu e o Português do Brasil ainda são a mesma língua? A essa questão tem o povo brasileiro respondido afirmativamente.
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A
partir dos anos 70 desenvolveu-se em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador,
Recife e Porto Alegre o estudo da norma linguística urbana culta (Projecto NURC), com
o objectivo de documentar e descrever o uso urbano do Português falado no
Brasil. Está actualmente em curso a elaboração de um Atlas Linguístico do Brasil (AliB), que visa delimitar e caracterizar os dialectos regionais brasileiros. Encontram-se informações sobre estes projectos em www.letras.ufrj.br/nurc-rj www.alib.ufba.br |
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