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PERES, J.A e MÓIA, T. (1995). Áreas Críticas da Língua Portuguesa. Lisboa: Ed. Caminho (pp.313-315).
5. Orações relativas Modificadores e complementos pronominalizáveis em cujo Nesta subsecção, ocupar-nos-emos apenas de orações relativas em que o pronome relativo corresponde a complementos ou modificadores de nome como os que ocorrem (sublinhados) nas frases seguintes e que, como adiante veremos, se caracterizam pela possibilidade de serem pronominalizados com o pronome relativo cujo: (1123) O trabalho deste estudante foi muito elogiado. (1124) O pai deste rapaz trabalha em França. (1125) A Ana escreveu o guião do filme. (1126) As portas do armário foram arranjadas. (1127) O nariz de Cleópatra tomou-se famoso. (1128) O advogado desta empresa foi censurado pela Ordem. (1129) É urgente fazer a catalogação destes livros. (1130) O início do festival de música medieval será no próximo domingo. Uma das características sintácticas particulares destes constituintes é o facto de serem introduzidos pela preposição de. Do ponto de vista semântico, terão certamente algumas propriedades em comum, que é difícil determinar com precisão. Evitando a questão, que não poderemos desenvolver aqui, diga-se apenas que pelo menos todos os tradicional-mente chamados «complementos determinativos» de posse e de parentesco se incluem neste grupo. Dadas as dificuldades de definição clara do grupo, recorreremos a um critério histórico para designarmos os seus membros, à semelhança do que já fizeram alguns gramáticos, por exemplo para o inglês. Esse critério tem a ver com o facto de os constituintes em causa corresponderem em geral a expressões do caso genitivo em latim. Assim — e na falta de melhor critério terminológico —, designaremos os constituintes sublinhados em (1123)-(1130) por constituintes genitivos, subdivididos em complementos genitivos e modificadores genitivos. Analisemos agora a possibilidade de realizar constituintes genitivos por meio de pronomes relativos. Para nos apercebermos da função dos pronomes relativos genitivos, vamos associar a cada uma das frases com complementos genitivos de (1123)-(1130) acima uma outra frase com as seguintes características: (i) contém uma oração relativa — em itálico — que reproduz a informação dada pela primeira frase; (ii) o pronome relativo dessa oração relativa tem grosso modo a mesma referência que o constituinte genitivo da primeira frase. Os constituintes genitivos não pronominais e os correspondentes pronomes relativos estão sublinhados. (1131) O trabalho deste estudante foi muito elogiado. (1132) O pai deste rapaz trabalha em França. (1133) A Ana escreveu o guião do filme. (1134) As portas do armário foram arranjadas. (1135) O nariz de Cleópatra tornou-se famoso. (1136) O advogado desta empresa foi censurado pela Ordem. (1137) É urgente fazer a catalogação destes livros. (1138) O início do festival de música medieval será no próximo Domingo. Como vemos, o pronome relativo que ocorre nestas frases é sempre cujo ou uma das suas variantes flexionais. Este pronome, que é a versão portuguesa do genitivo de um pronome relativo latino, está tradicionalmente ligado, em português, a uma posição e função de constituinte genitivo (1) . Note-se, com efeito, que o pronome cujo não pode, em princípio, pronominalizar constituintes com outro estatuto sintáctico-semântico, revelado nomeadamente por não serem introduzidos pela preposição de: (1139)a. O encontro com este especialista foi muito interessante. (1140)a. É preciso desenvolver a luta por estes direitos. Outras importantes características do pronome cujo são as duas seguintes: (i) obriga à deslocação do núcleo nominal de que depende o constituinte pronominalizado (nas frases dadas em (1123)-(1130), os nomes trabalho, pai, guião, portas, nariz, advogado, catalogação e início): (ii) obriga à supressão do artigo definido que está (pelo menos semanticamente) associado a estas estruturas nominais. _________ (1) Em fases anteriores do português, o pronome relativo cujo podia funcionar como complemento do predicado ser que é grosso modo sinónimo de pertencer. Silva Dias (1918/1970: 86) cita dois exemplos de Heitor Pinto: dar o seu a cujo he e torna os vestidos, a cujos são.
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Nota: No Dicionário Terminológico designa-se por determinante relativo a palavra "cujo(s), cuja(s)" que ocorre antes de nome no início das orações relativas. |