TLEBS B.3.1.7 Quantificador numeral:cujo, cuja, cujos, cujas |
INTERVENÇÕES NO FÓRUM
Fátima Santos segunda-feira, 20 Novembro 2006, 20:20 | Um acidente de percurso, película à imagem do livro com o mesmo título do ex-ministro das obras públicas de Inglaterra (e cuja tradução portuguesa será publicada em Portugal, em Dezembro, pela editora Esperança) Neste contexto, “cuja” é um quantificador relativo? |
Joaquim J. Cracel Viana - terça-feira, 21 Novembro 2006, 13:31 | Estimada colega, "cuja" é um quantificador relativo. Na TLEBS, os quantificadores relativos são: quanto(s), quanta(s); cujo(s), cuja(s). Introduzem frases/orações subordinadas relativas! Ex.: Comprei [quantos livros quis]. Comprei um livro, [cujo título agora não recordo], muito útil para os alunos. JCracel |
Fátima Santos - terça-feira, 21 Novembro 2006, 15:53 | Caro colega, muito obrigada pela resposta. Eu também vi a questão à luz da TLEBS e foi isso que despertou a minha dúvida, pois não entendo o que, neste contexto, funciona como quantificador. No entanto, também não encontrei a palavra integrada em qualquer outra classe. Presumi que só poderia ser um quantificador relativo, mas fiquei um pouco renitente, pelo que coloquei a questão. De facto, estive a ver os exemplos de possíveis exercícios para as provas de Exame Nacional de 12º ano e, numa frase semelhante, aparece a referência a pronome relativo. Como é um conteúdo potencial do Programa do Ensino Secundário, ainda que a intenção fosse que se concluísse que a afirmação era falsa, não quis deixar de partilhar esta minha questão. Fátima |
Maria Cecília M. F. A. S. Carvalho - quarta-feira, 22 Novembro 2006, 03:04 | Caros colegas, Penso que o facto de "cujo(s)/cuja(s)" ser incluído na classe dos quantificadores se deve à sua ocorrência pré-nominal, relativamente aos nomes a que se refere, ao contrário do que acontece com os pronomes relativos, cujos antecedentes os precedem ou não estão expressos. Estarei certa? Esta breve e superficial reflexão é um pequenino contributo. Creio que este assunto merece um estudo bem mais aprofundado, mas, de momento, tenho imensa falta de tempo. Poder-se-á, talvez, comparar os contextos de ocorrência de "cujo(s)" com o "dont". Não sei se será uma análise produtiva para a língua portuguesa. Trabalhosa será com certeza. Tentarei fazê-la assim que tiver algum tempo. Boa noite, Cecília |
Virgílio Dias - quarta-feira, 22 Novembro 2006, 19:10 | Cujo,a,os,as é um adjectivo relativo. Não consigo encontrar qualquer justificação para o ver incluído na classe dos quantificadores. Poderia, isso sim, ser incluído na classe dos determinantes. Porém eu prefiro classificá-lo como adjectivo relativo. |
Filomena Viegas - quarta-feira, 22 Novembro 2006, 21:05 | Viva colegas! Julgo que é de repensar esta possível não inclusão de cujo,a,os,as na classe dos quantificadores relativos. Para este tipo de reflexão vamos poder contar com o Professor João Costa. Encontro justificação, à luz da TLEBS e de uma análise sintáctica e semântica, para a sua inclusão na classe dos determinantes, não na dos adjectivos. Em termos de sistematização e de transposição didáctica essa classificação não me parece conduzir àquilo que pretendemos, uma uniformização de termos e de critérios de classificação. Boa noite FV |
Maria Cecília M. F. A. S. Carvalho - quinta-feira, 23 Novembro 2006, 03:01 | Caros colegas, Quando ontem comentei brevemente a possível razão da classificação de "cujo(s)/cujas(s)", ocorreu-me a sua inclusão na classe dos determinantes. Mas os determinantes podem co-ocorrer com outros de outras subclasses (o meu pai/este meu amigo). Já o relativo "cujo(s)/cuja(s)" não permite essa situação. Aproveitando o exemplo dado:"*Um acidente de percurso, película à imagem do livro com o mesmo título do ex-ministro das obras públicas de Inglaterra (e cuja sua tradução portuguesa será publicada em Portugal em Dezembro , pela Editora Presença)". Infelizmente, este é, hoje, um erro bastante comum. Por outro lado, "quantificador" remete para a ideia de "informação sobre o número ou a quantidade", porém os pronomes relativos variáveis também o fazem, de certa forma... Falando com as minhas colegas sobre este assunto, é opinião nossa, e de pessoas idóneas que, por vezes, nos ajudam, que "cujo(s)/cuja(s)" deveria manter o seu estatuto de pronome relativo. O exemplo que a colega enviou espelha bem, penso, o estatuto de pronome que reenvia para o antecedente (o livro), que, se não comento uma falha de análise, desempenha a função de complemento do nome "imagem". Parece-me que tem, simultaneamente, na cadeia de referência do discurso, uma interpretação anafórica e catafórica. Este "jogo" de detecção do antecedente e de ligação a um termo (ou frase) subsequente é referido também para a língua francesa na Grammaire Larousse Du Français Contemporain, de Jean-Claude Chevalier, Claire Blanche-Benveniste, Michel Arrivé e Jean Peytard, edição de 1984, § 242. Por favor, desculpem estas divagações, talvez inoportunas e pouco consistentes, seguramente muito discursivas. Muito obrigada e boa noite. Cecília |
Virgílio Dias - quinta-feira, 21 Dezembro 2006, 18:26 | Voltando ao cujo e à classe de palavras a que ele pertence, venho corrigir a opinião aqui publicada anteriormente - e que está errada. Eu escrevi que cujo era um adjectivo relativo - e admiti a hipótese de o classificar como determinante. Decerto eu estaria em mau dia, nesse dia. Cujo é um pronome relativo, sem qualquer margem para dúvidas. A todos os colegas que, como eu, têm paixão por estas coisas da Gramática Portuguesa, desejo um bom Natal. |
João Costa - quinta-feira, 21 Dezembro 2006, 18:36 | cujo é uma palavra essencialmente híbrida. Tem propriedades de relativo e propriedades de determinante. Em vários contextos, pode ter força quantificacional. Quando se faz trabalho de categorização, para estabelecer classes de palavras, recomendo sempre que, numa primeira fase, nos afastemos das palavras que não são prototípicas da sua categoria. No entanto, esta tem de ser trabalhada, porque são recorrentes os erros na escrita e na oralidade (casos como "cujo o" ou os casos de co-ocorrência com possessivo que referiram. Encontramos, portanto, esta palavra a funcionar simultaneamente como determinante, como relativo e como quantificador. Qualquer classificação é pouco satisfatória. Obviamente, os autores da TLEBS tiveram de fazer uma opção. Seriam também válidas opções como "pronome relativo", o que deixaria de fora o facto de não substituir grupos nominais e o facto de integrar o próprio determinante, ou "determinante relativo", o que deixaria de fora o facto de poder ter usos quantificacionais. |
Virgílio Dias - sexta-feira, 22 Dezembro 2006, 10:36 | Bom dia, Snr Prof.João Costa! Será da discussão que nascerá a luz. E confesso esperar que, finalmente, eu possa ver o motivo da hipótese da classificação de cujo como quantificador. Pode dar-me alguns exemplos? Desde o dia - já distante - em que eu aqui admiti a classificação de cujo como adjectivo relativo, todos os dias ele bateu na minha cabeça, até me forçar à retractação ontem publicada, e que repito: para mim, cujo é um pronome relativo. É certo que cujo apresenta, também, características de determinante, e, até, de adjectivo - mas sem perder, em caso nenhum, as de pronome. Por isso, eu não vejo qualquer motivo válido para não ser incluído, definitivamente, na classe dos pronomes. Consultei gramáticas, conferi exemplos, pesquisei frases...Não fui capaz de encontrar um único caso de possível classificação de cujo como quantificador - a não ser que considerássemos quantificadores todos os termos com capacidade de expressão de plural. Mas isso...não constitui traço qualitativo determinante para a sua inclusão numa classe de palavras. É por isso que aguardo, com alguma ansiedade, a sua resposta. |
Maria Cecília M. F. A. S. Carvalho - terça-feira, 26 Dezembro 2006, 15:31 | Sr. Professor João Costa , Talvez seja pelo facto de ser uma palavra híbrida, como a considera e claramente se confirma, que o erro na sua utilização se foi instalando no seio da comunidade. No entanto, é exactamente por ser de difícil classificação terminológica que a "discussão" se torna tão apaixonante... É no seio da comunidade científica, cujo papel é o da clarificação e opção terminológica à luz das diferentes possibilidades de categorização das palavras que apresentam tão variadas propriedades, que devem ser discutidas as diferentes perspectivas, procurando-se um consenso que não pode passar pelo afastamento das dificuldades de análise que apresentam e que conduzem, geralmente, à situação de evitamento da sua utilização ou cimentação da construção de frases em que a palavra acaba por perder as características únicas e sui generis que a distinguem. Assim, creio que "cujo" é muito mais que um determinante, e as suas propriedades quantificadoras, comuns a uma extensa lista de palavras da língua, não são os seus aspectos mais relevantes. Sem o antecedente a que se refere, a sua utilização seria perfeitamente dispensável ou inexistente. "Cujo" tem sempre um antecedente que o motiva e justifica, e, creio, serão sempre nomes, independentemente do constituinte principal da unidade sintáctica. No exemplo que serviu de base a esta reflexão, não é o grupo nominal "Um acidente de percurso" nem "película" o antecedente detectado, mas o nome que integra o grupo preposicional "à imagem do livro com o mesmo título" que reenvia o grupo nominal catafórico " tradução portuguesa" para o antecedente anafórico-nome- "livro" e para a catáfora "com o mesmo título" da anáfora "Um acidente de percurso". Na minha interpretação, "cujo" representa a ligação dos vários grupos nominais e preposicionais que se imbricam na frase [a tradução portuguesa do livro ( do ex-ministro das obras públicas de Inglaterra)com o título Um acidente de percurso, o qual deu origem à película com o mesmo nome...]. Como mencionei noutra intervenção, a cadeia de referência só é possível graças à interpretação de "cujo" com relevância para as suas propriedades de substituição do nome, que se sobrepõem a todas as outras propriedades que aquele apresenta também. Fica a minha humílima opinião, assente na apaixonante reflexão sobre esta palavra tão especial, motivada pela sua exposição clara e justificada, características que as minhas muitas dúvidas e os meus reduzidos conhecimentos me não permitem. Os meus cumprimentos e agradecimentos e votos de um feliz Ano Novo. Cecília |
Regina Gaspar - terça-feira, 26 Dezembro 2006, 18:29 | Colegas, tenho andado um pouco preguiçosa, razão pela qual não tenho participado nos debates. Acontece, porém, que hoje não resisti. O tema interessa-me mesmo! Escrevo, então, para afirmar que estou plenamente de acordo com a colega Cecília, quanto à estranha (classifiquemo-la assim!) integração de "cujo" na classe dos quantificadores. É que o facto de concordar em número (e género) com o nome situado à sua direita não pode, de modo algum, ser um argumento para tal integração. Existe, sem dúvida, uma relação entre os grupos nominais à direita e à esquerda desta palavra "híbrida", relação essa que é, precisamente, instaurada por ela na frase. Ora, como muito bem diz a colega Cecília, as propriedades de substituição, características dos pronomes (ou já não é assim?) prevalecem sobre quaisquer outras que nos pareçam coexistir, como seja uma ténue indicação de quantidade, aliás, partilhada por outras palavras que não estão incluídas entre os quantificadores. Veja-se, a propósito, o que na TLEBS é referido sobre este "quantificador relativo": "especifica um nome" (???) e "serve de conector ou elemento de ligação entre a frase subordinada e a subordinante". De que modo é que "cujo" especifica o nome? O que se entende aqui por "especifica"? E se especifica, acumula a função de conector? Estranho, muito estranho! É claro que, provavelmente, estou a falar do que não sei, apesar de ter feito estudos de Línguas e Literaturas Modernas, na Faculdade de Letras de Lisboa, o que implica ter frequentado as cadeiras do Departamento de Linguística, desde a Introdução aos Estudos Linguísticos, até à História da Língua, passando pela Fonética e Fonologia do Português e pela Sintaxe e Semântica do Português... A todos um Bom Ano e que 2007 traga uma boa dose de rigor científico, clareza terminológica, humildade (porque não há donos da língua) e boa vontade para que se faça a mudança que desejamos, mas não a qualquer preço. |
João Costa - quarta-feira, 27 Dezembro 2006, 16:29 | Olá a todos, |
Regina Gaspar - quarta-feira, 27 Dezembro 2006, 21:16 | Boa noite, Prof. Dr. João Costa ! Penso que o teor do Post Scriptum incluído na sua última intervenção (" PS: Há donos da língua! São os seus falantes!") é uma resposta à minha afirmação, quando defendo que não há donos da língua. Como é óbvio, com o teor do seu PS estou eu plenamente de acordo e, como também será óbvio, a afirmação por mim produzida implica (como o domínio da Pragmática e da Linguística Textual nos ensina) a mobilização de processos interpretativos inferenciais e, talvez, de um saber compartilhado ... Quero esclarecer que, desde o início deste processo, tenho procurado actualizar-me, fazendo a leitura de bibliografia especializada, frequentando acções de formação orientadas por alguns dos autores da TLEBS, introduzindo a nova terminologia nas aulas e tentando transmitir o conhecimento por mim adquirido aos meus colegas. Todavia, como professora de Língua Portuguesa/Português, há quase 20 anos, considero que a introdução de uma TL exige um debate alargado e o contributo de todos nós, linguistas e professores de língua materna incluídos. É esta necessidade de debater os assuntos que aqui nos reúne neste fórum. Pela parte que me toca, foi esta necessidade que me fez inscrever no fórum, praticamente, desde que foi criado e disponibilizado. Assim sendo, quando me indigno perante determinadas opções tomadas pelos autores da TLEBS (como é o caso da inclusão de cujo na classe dos quantificadores, mas não só...), não é porque seja uma resistente à mudança, mas porque defendo que, sendo todos nós "donos da língua", pois somos "seus falantes", temos o direito e o dever de fazer uma crítica construtiva a um instrumento de análise e de descrição da mesma, em vez de assumirmos uma atitude de aceitação passiva e acrítica. Será que as críticas produzidas, até ao momento, não terão sido positivas ao chamarem a atenção para determinados problemas suscitados pela TLEBS? Regina Gaspar |
João Costa - quarta-feira, 27 Dezembro 2006, 21:42 | Boa noite! |
Virgílio Dias - sexta-feira, 29 Dezembro 2006, 09:44 | Estamos a tirar conclusões de discussão já prolongada. Cujo não é um quantificador. Já é bom. Mas...não foi ainda aceite a classificação que me parece dever ser a definitiva. Aceita o Snr Prof.João Costa a sua inclusão na classe dos determinantes. E, de facto, cujo tem características de determinante. Mas o seu traço dominante não é o de actualizador. Continuo a pensar que cujo é sempre, em todos os casos, um pronome, e que só acidentalmente apresenta características de determinante. Deveremos, pois, inclui-lo, definitivamente, na classe dos pronomes. |
Maria Cecília M. F. A. S. Carvalho - domingo, 31 Dezembro 2006, 02:17 | Exmo. Senhor Professor João Costa , Permita-me, por favor, dizer que em francês "dont" substitui também grupos preposicionais. "J'ai vu la maison. Tu m'as parlé de la maison."; "J'ai vu la maison dont tu m'as parlé." "Dont" substitui o nome do grupo preposicional, sem deixar de ser considerado um pronome relativo. No exemplo apresentado no CD da TLEBS, pode ler-se: "Encontrei o livro [de que me falaste]." Nas observações refere-se que "Como o exemplo mostra, quando o pronome relativo faz parte de um grupo preposicional, todo o grupo ocorre em posição inicial da frase relativa." Traduzida para francês, a frase ficaria "J'ai trouvé le livre dont tu m'as parlé." ou "J'ai trouvé le livre duquel tu m'as parlé.", sendo mais correcta a primeira versão. Acontece que, em português, nesta frase não pode ser utilizado "cujo". Teria de aparecer um novo nome regido de preposição para a possibilidade de utilização de "cujo". "Encontrei o livro de cujo assunto me falaste." Será esta a "chave" da classificação proposta? "Assunto" não aparece na subordinante; por outro lado, "livro" não aparece na subordinada, depois da transformação em frase "complexa" das frases "simples": "Encontrei o livro. Falaste-me do assunto do livro." Assim sendo, "cujo" substitui um grupo preposicional, ligando-o a um novo nome não presente numa das frases, mas relacionando e subentendendo a ligação entre o nome e o grupo preposicional (assunto do livro). Este exemplo não nega a observação transcrita "Como o exemplo mostra, quando o pronome relativo faz parte de um grupo preposicional, todo o grupo preposicional ocorre em posição inicial da frase relativa." (...de cujo assunto me falaste.). Já na frase de que se partiu, "Um acidente de percurso, película à imagem do livro com o mesmo título do ex-ministro das obras públicas de Inglaterra [e cuja tradução portuguesa será...]", nota-se que o conector é a conjunção coordenativa copulativa e, não sendo o relativo "cujo" o conector da frase relativa, mas a ligação do grupo nominal "tradução portuguesa" ao grupo preposicional "do livro". Assim, a observação de quantificador relativo não estará correcta no CD da TLEBS: "Serve de conector ou elemento de ligação entre a frase subordinada e a subordinante." Em conclusão, embora o corpus de análise tenha sido diminuto, ficam patentes, penso, as características de determinação e de relação subentendida dos termos. Os aspectos quantificativos são, a meu ver, praticamente irrelevantes, por comuns a outras classes; há ainda o facto de não se reconhecer a frase relativa, a não ser subentendendo o verbo da subordinante(?), ou a frase estará incompleta? Esta exposição não está muito clara, pelo que peço desculpa. São reflexões e desconhecimentos que me foram surgindo e que o Sr. Professor poderá, com certeza, clarificar e explicar mais objectiva e fundamentadamente. Muito obrigada e um Bom Ano, Cecília |
João Costa - domingo, 31 Dezembro 2006, 16:09 | Cara Cecília, A sua exposição está claríssima e faz todo o sentido. Deixe-me responder apenas a alguns aspectos que refere e contribuir para continuar esta discussão interessante. Como mostra, "cujo" pode ser antecedido de preposição, mas precisa de um nome que o siga. A análise que faz está perfeita, uma vez que "cujo" substitui grupos preposicionais (tipicamente introduzidos por "de") com uma função sintáctica interna ao grupo nominal, no que difere crucialmente do "dont" francês. Assim, não pode ocorrer como substituto de um grupo preposicional em que a preposição seja dependente da subcategorização ou regência de um verbo. Ficamos, ainda assim, com "cujo" a substituir sempre grupos preposicionais, mais especificamente grupo preposicionais de natureza genitiva. Penso que a questão em torno dos conectores é distinta desta. O termo conector, tradicionalmente utilizado na linguística textual, denota uma função muito abrangente para o estabelecimento de relações de nexo entre frases e/ou fragmentos de texto. As classes que podem ser utilizadas como conectores são imensas: pronomes, advérbios, conjunções, etc. É interessante observar que, numa mesma frase, podem ocorrer vários conectores (por exemplo, em sequências como "e, contudo,..." ou "mas eu, todavia,...". O facto de conjunções e pronomes relativos coocorrerem não retira, portanto, o estatuto de conector a qualquer um deles. Devemos é entender que "conector" é um termo independente das classes morfo-sintácticas. Voltando ao ponto de partida: determinante relativo ou pronome relativo? Quando eu dizia, noutra mensagem, que me parece mais adequado o termo determinante relativo, fazia-o para estabelecer a diferença entre este relativo e os restantes, que, de facto, substituem grupo nominais. Note que, ao chamar-lhe determinante relativo, já estou a assegurar que só ocorre em contextos relativos. Ao chamá-lo determinante, estou a assegurar que ocorre sempre associado a um nome e que incorpora o determinante. Do ponto de vista didáctico, parece-me essencial ensiná-lo a par dos pronomes relativos para mostrar a diferença entre estes e "cujo" em termos de funcionamento e de uso. Pegando na comparação que fez com "dont", é importante mostrar, no ensino do francês, que "dont" tem um comportamento mais próximo de "de que" do que de "cujo", sendo, assim, justificável que se aproxime em termos de nomenclatura "dont" dos pronomes. Aqui pareço contradizer-me, uma vez que, como mostra, "dont" também não substitui grupo nominais. E é aqui vou baralhar um pouco mais tudo isto. Nalguma tradição gramatical, que me parece que os autores da TLEBS seguiram, não é feita distinção entre pronomes, advérbios e outros relativos ou interrogativos (que vs. como vs. onde vs. quando), sendo todos chamados de pronomes. Esta é também a tradição de algumas gramáticas francesas. É por isso que "dont" é muitas vezes chamado de pronome relativo. A questão é, portanto, de opção terminológica e de hierarquização da informação. Um percurso possível é ensinar os determinantes e os pronomes relativos e, depois disso, observar que há uma palavra que apresenta propriedades de determinante, mas só funciona como relativo (substituindo grupos preposicionais). Outro percurso possível é ensinar os pronomes relativos independentemente do ensino dos determinantes e aí seria mais adequado tratar "cujo" a par dos restantes pronomes. Parece-me que o primeiro percurso pode ser mais produtivo para se resolverem os problemas de norma que "cujo" levanta. Sendo frequente o erro "cujo o", é importante mostrar que esta palavra é, ao mesmo tempo, relativo e determinante. Um bom ano! João |
Fátima Santos - domingo, 31 Dezembro 2006, 20:13 | Caro(a)s colegas, próximo da hora de jantar e da passagem do ano para 2007, quero agradecer os preciosos contributos para a minha dúvida. Peço desculpa pela polémica que gerou, mas, como a Regina disse, este é um espaço privilegiado para reflexão. De facto, tenho contextualizado "cujo" em várias frases e talvez o conseguisse também ver como especificador / quantificador relativo, mas gostaria muito da vossa opinião. Observemos o seguinte exemplo: "Os alunos, cujos resultados foram negativos, poderão realizar nova prova de exame." O que vos parece? Um abraço e um bom ano para todos, Fátima Santos |
Virgílio Dias - quarta-feira, 3 Janeiro 2007, 10:23 | Bom desafio! Propõe a colega Fátima Santos que analisemos o exemplo seguinte: "Os alunos, cujos resultados foram negativos, poderão realizar nova prova de exame." E pergunta (ou desafia!): O que vos parece? Pelo contexto, fiquei com a impressão de que ela suspeita da presença de qualquer traço de quantificador naquele "cujo"... 1. Trata-se de uma frase complexa. O seu conteúdo exacto poderia ser expresso por duas frases simples: Os resultados daqueles alunos foram negativos; poderão realizar nova prova de exame . Como vemos, ...cujos resultados = os resultados daqueles (alunos) . Não vejo qualquer hipótese de cujo ser outra coisa que não pronome relativo . 2. Atrevo, ainda, outro exemplo (prova) - Os livros, cuja leitura tu tanto aprecias, estão na minha casa. Trata-se de uma frase que qualquer aluno do 1º ano de estudo de Latim é capaz de retroverter.Ponhamo-la em Latim: Libri, quorum lectionem tanti aestimas, sunt domi meae. Historicamente é assim. " Cujo" é um pronome relativo em genitivo . Indiferente ao nome a que se une, e que parece determinar, ele assume o género e o número do seu antecedente. E, mais uma vez, cujo é um pronome relativo . Diga-nos, agora, a Fátima: que lhe parece? Está já convencida de que trata dum pronome relativo, ou mantém-se ainda envolta em dúvidas? Há ainda uma nota que me parece importante termos presente na análise sintáctica. Noto que alguns colegas mexem e remexem tanto os textos que, ao fazerem a análise, ficamos sem saber se estão a analisar o texto alheio, ou a pronunciar-se sobre as conjecturas que eles próprios lançam sobre os textos. Análise sintáctica não é isso. A análise sintáctica tem dois momentos igualmente importantes: o momento da investigação, em que lemos, interpretamos, modificamos, transpomos...lançamos hipóteses. Trata-se de um momento de intimidade nossa com o texto . E há um outro momento, o momento final: o da análise propriamente dita. Nesse, pronunciamo-nos humildemente sobre o texto que outrem escreveu e que nós analisamos. A hipótese não tem lugar neste momento. |
Fátima Santos - quarta-feira, 3 Janeiro 2007, 11:34 |
Obrigada, colega. De facto, a minha dúvida, desde o início, é tentar encaixar o "cujo" nos quantificadores relativos, de acordo com a TLEBS, porque também o vejo sempre como um pronome relativo e, por vezes, receio não ter esgotado as hipóteses possíveis... Um abraço |
Regina Gaspar - quarta-feira, 3 Janeiro 2007, 15:22 |
Olá, Fátima! Para mim, é claro que "cujos" em "Os alunos, cujos resultados foram negativos, poderão realizar nova prova de exame" só pode ser um pronome relativo. Já houve colegas que fizeram uma análise, aludindo quer ao Francês, quer ao Latim, por isso, neste momento, resta-me não só concordar com eles, como reiterar a minha convicção de que cujo muito dificilmente poderá ser outra coisa que não seja um pronome. Se começamos a argumentar em torno da existência de uma qualquer noção de quantificação, muitas outras palavras teriam de ser integradas nesta nova classe, nomeadamente, os artigos definidos e indefinidos, os determinantes possessivos e por aí adiante, não? Se dissermos: A minha amiga chama-se Maria. e As minhas amigas passaram o réveillon comigo. pela lógica seguida na TLEBS, será que não estaria igualmente presente uma quantificação (sing./plu.)? |
Luís Magalhães - quarta-feira, 3 Janeiro 2007, 23:57 |
Quando, pela primeira vez, me deparei com a classificação de cujo como quantificador relativo estranhei: não conseguia compreender o porquê de tal classificação. Mais tarde, verifiquei AQUI, na nossa Gramática.pt, que a minha estranheza tinha alguma razão de ser, pois muitos colegas – muito mais sabedores do que eu – provaram, com argumentação pertinente, que essa não seria a classificação mais adequada. Fiquei mais sossegado... Entretanto, nas minhas andanças pelas mais recentes informações do GAVE (de onde já tinha retirado o exercício sobre o antecedente relativo que coloquei neste fórum) verifiquei que essa é a terminologia utilizada... Desassossegado...Aqui deixo o referido exercício... |
Luís Magalhães - quinta-feira, 4 Janeiro 2007, 00:37 | ... a informação do GAVE... http://www.gave.pt/informacoes_exame_2007.htm e, porque estamos no início de um NOVO ANO, uma prece: PRECE Senhor, a noite veio e a alma é vil. Mas a chama, que a vida em nós criou, Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -, Fernando Pessoa, in Mensagem Luís |
Fátima Santos - quinta-feira, 4 Janeiro 2007, 15:36 |
Luís, considero a TLEBS importante! Penso que não podemos retroceder! Não partilho a voz do(s) Velho(s) do Restelo, porque a terminologia anterior estava desactualizada. Contudo, corroboro a "sua prece", acho que precisamos de sossego em relação aos aspectos polémicos. E, já agora, gostaria muito de ter a opinião objectiva da autora (que muito respeito) do domínio das classes de palavras, para que possamos transmitir conhecimentos com convicção e segurança. |
Luís Magalhães - segunda-feira, 8 Janeiro 2007, 22:14 |
Fátima,
Também eu não sou contra a TLEBS. Desde o primeiro dia em que Aqui entrei, deixei-o bem claro. Sou – isso sim! – contra a sua aplicação apressada, não amadurecida - o que não augura nada de bom - e a favor de uma aplicação serena, resultante de uma reformulação reflectida, ou seja, feita com bom senso. É esse bom senso que vejo na figura do Velho do Restelo. Por trás dele está a voz de Camões (o episódio está inserido no Plano do Poeta) que, se soube louvar os Grandes Feitos, também se permitiu apontar críticas. Acresce que não estamos perante um velho qualquer. O POETA teve o cuidado de o caracterizar condignamente. E as palavras que tirou do “experto peito” não deixam dúvidas: a ambição desmedida pode trazer graves consequências. Que o diga Ícaro! Por tudo isto, o Velho sempre foi, para mim, a voz da experiência e do bom senso, pois ele, como Camões (apesar de este ser cego de um olho), via muito claramente... E é em nome dessa clarividência e desse bom senso que continuo Aqui, neste Nosso Sítio. Porque Aqui, discute-se. Aqui, reflecte-se. Aqui, somos suave e... serenamente esclarecidos. E assim, talvez Aqui “conquistemos a Distância – / Do mar ou outra, mas que seja NOSSA!” Luís |
Filinto Capela - terça-feira, 9 Janeiro 2007, 15:08 | Sempre ensinei o "cujo" como sendo um determinante relativo. É seguido de um nome e relaciona-se com algo que vem atrás. |