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TLEBS
B. Linguística descritiva_B4. Sintaxe

B.4.3.4 Modificador do grupo verbal

INTERVENÇÕES NO FÓRUM

Virgílio Dias - sexta-feira, 5 Janeiro 2007,21:44

Preciso de suscitar o debate desta sua informação - porque preciso de ideias bem claras . Eu só intervenho neste fórum para aprender - mesmo quando possa parecer o contrário.

Mas...vamos já ao trabalho.

1. Todos os dias, este jovem passa em frente à escola

Omitamos "todos os dias", e consideremos, apenas, a frase: 

2.Este jovem passa em frente à escola.

Podemos nela introduzir um modificador inequívoco:

3. Este jovem passa diariamente em frente à escola.

Pode perguntar-se: que diferença fazem as frases 1. e 3.? E a resposta deveria ser: Muita!

A diferença fundamental consiste na perda da posição topicalizadora ocupada pelo constituinte todos os dias .

Mas há, ainda, um outro aspecto que se reduz consideravelmente: a frase 3 não respeita o sentido da frase 1, claramente portadora de duas mensagen s: 

- a) que o rapaz passa em frente à escola

- b) que ele faz isso todos os dias .

É um princípio, ou mesmo uma evidência, que a expressões diferentes correspondem sempre sentidos diferentes . E a descrição gramatical terá de respeitar, e de realçar, os diversos sentidos dados pelas diferentes expressões.! Por isso, eu analisaria:

            - Este jovem passa diariamente em frente à escola - diariamente : modificador

E, agora, a minha opinião:

- Todos os dias , este jovem passa em frente à escola - todos os dias será um adjunto oracional (frásico), ou, de preferência, um complemento circunstancial, uma vez que não modifica nada , mas é um acréscimo de informação como a Assunção bem diz.

Transcrevo palavras suas: Acrescenta informação acerca da frequência em que a situação descrita pelo predicado é verdadeira. Se acrescenta informação , classifiquemo-lo como tal .

 

Filomena Viegas - segunda-feira, 8 Janeiro 2007, 17:52

Virgílio,

Imagine-me nesta intervenção no papel de Procuradora da Coerência. Pois manda a Coerência que eu, como responsável pelo GramáTICª.pt, o informe que os TERMOS que aqui são utilizados devem ser coerentes com a TLEBS. Não estou a falar de conceitos, estou a falar de ETIQUETAS. Os colegas que vêm procurar esclarecimento não devem ficar baralhados com as etiquetas que aqui são utilizadas.

Em nenhum dos documentos – Programas, Currículo Nacional, TLEBS – ocorre o termo Adjunto, que o Virgílio utiliza nesta sua intervenção. Utilizamos Modificador em substituição do Complemento Circunstancial, que ocorre nos Programas.

Estas informações podem ser consultadas no Documento TLEBS: Princípios e sugestões para a generalização da experiência, p. 20 e p. 31.

Se um dos objectivos da TLEBS é a uniformização de termos e conceitos, é natural que neste espaço tentemos dar cumprimento a esse objectivo.

Obrigada.

Virgílio Dias - terça-feira, 9 Janeiro 2007, 09:01

Filomena

Em 9 de Dezembro, eu escrevi, neste mesmo fórum:

Este fórum é, para mim, uma discussão pública da TLEBS, uma confrontação dos seus princípios com situações de análise - a fim de concluirmos se ela responde, ou não, a casos concretos de descrição gramatical.

A Filomena não corrigiu esta minha interpretação!

Mas deve alegrar-se, pois o vosso trabalho tem sido útil. Quer a prova? É que eu já sei aprendi algumas coisas.

Eu hoje bebi café com leite - com leite é um modificador de café . Dá origem ao grupo nominal café com leite que é o complemento directo de bebi .

Eu hoje misturei café com leite - com leite é um complemento preposicionado, regido pelo predicador misturei .

O que ainda não sei - e, por isso, peço ajuda :  

Eu hoje, com café e com leite , fiz rapidamente um lanche frugal. 

Como classificar sintacticamente, com café e com leite ?

Se disserem que é modificador, digam-me de quê ; se optarem por complemento preposicionado, esclareçam-me do quê .

Em questões gramaticais, não há etiquetas arbitrárias.

Muito obrigado.

Virgílio Dias

Virgílio Dias - segunda-feira, 29 Janeiro 2007, 19:16

Filomena

Sem resposta ao meu pedido de 9 de Janeiro, insisto:

Na frase:

Eu hoje, com café e com leite , fiz rapidamente um lanche frugal

como classificar sintacticamente, com café e com leite ?

Virgílio Dias

Isabel Delgado - quarta-feira, 31 Janeiro 2007, 03:30 Caro Virgílio,

Embora a questão não me seja dirigida a mim, respondo-lhe dizendo que, nos dias que correm, deverá ser qualquer coisa como isto:
"com café e com leite" - modificador preposicional do grupo verbal e complemento circunstancial (ou adjunto adverbial) de matéria; e, já agora, "hoje" - modificador adverbial do grupo verbal e complemento circunstancial de tempo; "rapidamente" - modificador adverbial do grupo verbal e complemento circunstancial de modo; "frugal" - modificador adjectival do nome "lanche" e atributo do mesmo!!!! No resto da frase não deve haver divergências...

Boa noite.
Isabel Delgado
Filomena Viegas - quarta-feira, 31 Janeiro 2007, 19:27

Boa tarde, Virgílio e Isabel,

Na frase do Virgílio adopta-se uma ordem não canónica para a apresentação da sequência dos constituintes. A ordem canónica seria “Hoje, fiz rapidamente um lanche frugal com café e com leite.” E esta seria a frase-exemplo a trabalhar com os alunos.

Concordo com a Isabel quando considera "com café e com leite" - modificador preposicional do grupo verbal”. Não concordo quando acrescenta, usando “ e ”, a designação da gramática tradicional (complemento circunstancial de matéria). Não considero vantajoso misturar diferentes tipos de análise, a que o uso da Tlebs pressupõe e a da gramática tradicional que é adoptada nos programas,  sem os devidos cuidados.  Também não concordo com a designação de adjunto adverbial aplicada a esta expressão.

Veja–se a este propósito o que já disse em intervenções anteriores:

“Se um dos objectivos da TLEBS é a uniformização de termos e conceitos, é natural que neste espaço tentemos dar cumprimento a esse objectivo.”

FViegas

Isabel Delgado - quarta-feira, 31 Janeiro 2007, 23:16 Boa noite Filomena,

    Na fase actual, que ainda é de tanta incerteza, o meu "e" era, na realidade, uma forma de expressar alguma simpatia por todos os que têm dificuldade em abandonar completamente uma terminologia já interiorizada, sobretudo em aspectos em que ela revelava ser vantajosa. E não me refiro só aos professores. A verdade é que os complementos circunstanciais eram das poucas coisas que a maioria dos nossos alunos entendia mesmo, qualquer que fosse a ordem de apresentação dos constituintes da frase!
    Mas não se pense que estou de má vontade em relação à nova terminologia. Temos até a alcunha de "Tlebs", eu e a minha colega coordenadora de departamento, por andarmos entusiasmadas de volta das gramáticas e a produzir novos materiais... E percebo a sua insistência na uniformização, Filomena, acredite, e também concordo.
    Quanto à noção de adjunto adverbial, limitei-me a seguir a terminologia da Gramática de Lindley Cintra (pelo menos tal como a entendi). Mesmo na Tlebs, essa gramática continua a ser uma referência, pelo que julgo ter lido por aqui algures, não é?

Isabel
Filomena Viegas - quinta-feira, 1 Fevereiro 2007, 12:18

Bem-vinda a esta comunidade de aprendizagem, Isabel!

O comentário à sua intervenção prende-se com a minha chamada de atenção para a necessidade de sermos coerentes com a escolha dos termos que aqui utilizamos. A Tlebs pode servir para nos orientar nesse sentido. Temos os termos da Tlebs - Modificador vs Complemento - e os do Programa e do Currículo Nacional (CNEB) - no caso de que nos ocupamos, Complemento circunstancial (2.º e 3.º ciclos). Complemento Circunstancial ocorre na Nomenclatura Gramatical de 1967. Em nenhum documento legal ocorre Adjunto ou circunstante, que são referidos na Base de dados, nas Notas à definição do termo Modificador: “Na tradição gramatical, os modificadores também se denominam adjuntos ou circunstantes.”

Adjunto adverbial é o termo adoptado na Gramática de Cunha e Cintra, como a Isabel refere. Pode crer que esta é uma gramática que temos utilizado muito nesta comunidade mas julgo que entende agora o sentido com que utilizei:

“Se um dos objectivos da TLEBS é a uniformização de termos e conceitos, é natural que neste espaço tentemos dar cumprimento a esse objectivo.”

Ao longo dos meus 32 anos como professora de português, sei por experiência própria o que são os problemas que advêm da deriva terminológica. Justifico-a muito pelo nosso desconhecimento dos documentos legais e dos conceitos que estão associados aos termos que neles constam. Só para trazer um exemplo (que pode ser confirmado num dos nossos fóruns), em nenhum documento legal ocorre o termo Nome predicativo do sujeito, nem na Nomenclatura gramatical de 1967, nem no Programa de Português, nem no CNEB. Contudo, Nome predicativo do sujeito instalou-se e, se não tivermos cuidado, se não formos disciplinados, ele vai continuar a ser utilizado e a gerar confusão na cabeça dos professores e, claro está, na dos alunos, que não vão entender porque se chama Nome a um grupo que pode não ser nominal.

Julgo que podíamos fazer da deriva terminológica um tema de reflexão. Também nos podia elucidar sobre as razões que terão estado na origem das opções feitas nos documentos legais, quanto à escolha das etiquetas para referir os fenómenos da língua que se querem definir.

FViegas

Virgílio Dias - quinta-feira, 1 Fevereiro 2007, 12:43

Tem razão, Colega Isabel Delgado.

Tenho grandes dificuldades em aceitar muitos dos disparates desta TLEBS. Mas olhe, não é por reacção à novidade, como sugere; é porque conheço tantas gramáticas, tão boas, doutros países - e vejo este atraso a instalar-se no nosso. Aliás, o atraso está instalado (por culpa das Universidades, que licenciaram, para o ensino do Português, professores sem qualquer saber para análise de um texto).

E quer saber? Fui dos primeiros entusiastas da TLEBS. Recebi na UBI a sua primeira forma esquemática no ano 2000, com indicação, na página 2, de que eram seus responsáveis 16 professores, alguns dos quais eu muito considerava. Nunca imaginei que o resultado final viesse a ser este!

Uma Terminologia que, na frase que aqui analisamos, considere suficiente a classificação de modificador para constituintes tão diferenciados como hoje , com café e com leite , rapidamente - tal Terminologia não tem, por objectivo, descrever o texto, elucidar o aluno, interiorizar a nossa língua.

Bom trabalho, Colega.

Virgílio Dias

Filomena Viegas - domingo, 4 Fevereiro 2007, 10:30

Bom dia, Virgílio
Excessos, dos quais o tamanho da letra pode ser o mais evidente,  não são bem vindos aos fóruns de aprendizagem. Agradeço-lhe que leia e cumpra as regras de etiqueta na Internet.

Muito obrigada
Filomena Viegas

 

Filomena

Surpreende-me muito o seu aviso.

Depois de observar todas as outras intervenções, e nelas deparar com tão diferenciados tipos e tamanhos de letra, não consigo compreender por que o tipo de letra que eu uso mereça ser criticado. Como pode notar, raramente uso o mesmo tipo - e não imagina a Filomena as dificuldades que eu sinto para alinhar isso com alguma apresentação. Umas vezes tem saído um tipo demasiado pequeno, e outras, demasiado grande. O único significado que a Filomena deve atribuir a isso é, só, o meu fraco domínio destas técnicas de comunicação. Se vê algo mais, creia que vê o que eu lá não quis pôr.

Um fórum, como eu o entendo, é discussão pública dum tema. O facto de os diversos intervenientes deverem ser profundamente respeitadores dos Colegas não quer dizer que da discussão esteja ausente muito entusiasmo e, até, alguma veemência. Discutir é isso mesmo.

Reli as 10 Regras a cuja cumprimento a Filomena me incita. Pela minha leitura não infringi nenhuma delas; fico, porém, com sérias dúvidas sobre a interpretação que a Fimena fará da Regra 9.

Virgílio Dias

Luís Filipe Ramos - sexta-feira, 9 Fevereiro 2007, 04:23 Caro Virgílio,
Sou Luís Filipe Redes, Professor do E. Básico
Não entendo porque acha uma desvantagem uma terminologia aglutinar coisas diversas sob um mesmo conceito. Parece-me que esse é o trabalho da ciência: mostrar como coisas diferentes têm um aspecto comum. "Hoje" e "com café" podem ser classificados como modificadores quando se limitam a acrescentar informação ou como complementos se são exigidos.  De facto um é adverbial, o outro é preposicional, mas modificam ou complementam  o verbo ou o nome.
Parece-me que a sua mistura de terminologias não se limitou à TLEBS e à NGP, pois utilizou o termo adjunto oracional que aparece na Gramática do Lindley Cintra onde não aparece qualquer referência a complementos circunstanciais (pelo menos, na minha edição).
Quando fala em circunstâncias de tempo, lugar, instrumento, matéria, etc... está a entrar noutro domínio que é o do sentido e não já o da sintaxe.
De resto, não sou capaz de compreender a distinção de sentido entre diariamente e todos os dias . Este grupo pode ser colocado exactamente no mesmo lugar do primeiro, a seguir ao verbo. Acho que a minha gramaticalidade sente-se melhor com "todos os dias" a seguir ao verbo!
Na análise sintáctica, a semântica aparece como critério de verificação e não como elemento de classificação.
Acrescentar informação é modificar. Se acrescenta informação ao verbo, ou ao grupo verbal, modifica-o!
Compreendo a sua intenção com "Eu hoje, com café e com leite , fiz rapidamente um lanche frugal"
Parece-me que está a relevar a posição alterada do grupo como determinante da sua inserção na árvore da frase.
Para mim a questão é a seguinte: na forma canónica proposta pela Filomena fico na dúvida se "com café e com leite" se liga ao grupo verbal ou se é um modificador do grupo nominal ("um lanche frugal com café com leite").
Por exemplo, "Hoje gostei daquele lanche frugal com café e com leite".
Esta eventual ambiguidade sintáctica não acrescenta nada à problemática modificadores versus complementos circunstanciais: a frase tem duas leituras cada uma com a sua interpretação.
Luís Filipe Ramos - sexta-feira, 9 Fevereiro 2007, 23:25

Gostaria de acrescentar que a dita ambiguidade sintáctica tem efeitos pragmáticos irrelevantes: tanto faz que se prepare um lanche usando café e leite, como que apareça feito um lanche com café e com leite.

Outro exemplo:

De retalhos, fiz uma manta / Fiz uma manta de retalhos.

Filomena Viegas - sábado, 10 Fevereiro 2007, 14:42

Boa tarde Luís,

Regresso às frases (1) e (2).

(1)Hoje, com café e com leite , fiz rapidamente um lanche frugal.
(2) Hoje, fiz rapidamente um lanche frugal com café e com leite .

Em (1), o constituinte “com café e com leite” ocupa uma posição marcada na frase e funciona como Modificador do grupo verbal, como já tinha sido dito anteriormente. Quando o mesmo constituinte ocupa uma posição não marcada na frase, como acontece em (2), tem a mesma função sintáctica de “frugal”, Modificador do nome “lanche”. Na verdade, para dizer com mais propriedade, funciona como modificador do nome apositivo.

Estou a identificar o constituinte com café e com leite em (1), como ocorrendo numa “posição marcada” para chamar a atenção para a importância que este facto tem ao nível exactamente da pragmática, onde teremos interessante reflexão a fazer. Nos dois últimos exemplos que o Luís nos traz ocorre a mesma alteração na posição do constituinte “de retalhos”.

(3) De retalhos , fiz uma manta.

(4) Fiz uma manta de retalhos .

Esta mudança do constituinte de uma posição marcada para uma posição não marcada pode gerar diferentes leituras da frase e, portanto, diferentes interpretações. De uma forma simples, e a pensar nos alunos, poderíamos dizer que em (3), com “de retalhos” em posição marcada, a leitura da frase pode ser mais enfática, (o locutor focaliza este constituinte, a que junta pausa e pode alterar a curva entonacional de todo o enunciado), em (4), com “de retalhos” numa posição não marcada, a leitura da frase será mais neutra.

Vou continuar esta reflexão no Fórum B7. Pragmática e linguística textual, com o tópico " Interpretar enunciados ".

FViegas

Luís Filipe Ramos - sábado, 10 Fevereiro 2007, 23:36 Olá, Filomena,

Pois, na posição canónica, o grupo preposicional não restringe o significado de "lanche". Na posição marcada, sugere que o lanche é feito só de café e leite.
A distinção entre restritivo e apositivo nem sempre é fácil.
"De retalhos" não estará a limitar o tipo de mantas possível?
Obrigado.
Virgílio Dias - domingo, 11 Fevereiro 2007, 11:40

Luís Filipe

Por ter estado fora de Castelo Branco nos dois últimos dias, só agora respondo às suas intervenções do passado dia 9.

Apesar de o assunto ser muito interessante e merecer algum espaço,vou ser muito breve.

Toda a sua intervenção é dominada pela ideia claramente expressa logo no início: 

Não entendo por que acha uma desvantagem uma terminologia aglutinar coisas diversas sob um mes mo conceito.

Terminologia linguística é um repositório de termos capazes de identificar ou descrever as situações ou funções dos diversos constituintes numa frase. Logo, se uma terminologia não fornecer termos diferentes para situações diferentes, estamos perante uma má terminologia.

Sintaxe é o estudo das ligações internas que prendem umas às outras as diversas palavras da frase. Porém ... as palavras são sempre portadoras de sentido, e só como tais elas constituem a frase. É por isso que a semântica não é, como diz, um critério de verificação para a sintaxe, mas, ao invés, o seu escopo.

A validade da análise sintáctica terá de ser sempre aferida pela sua capacidade de nos revelar o sentido da frase. Daí que eu discorde da análise sintáctica que tenha em conta o que poderia estar na frase, mas que, de facto, lá não esteja.

 Outro princípio fundamental na análise sintáctica é: que não é possível uma classificação igual para situações diferentes. E sempre que se classifiquem do mesmo modo situações diferentes, estamos perante um erro de análise - ou grave falta da terminologia.

Quanto aos modificadores, repito aqui o que já disse ao Prof.João Costa: eles são elementos de extrema importância na frase - mas demasiado vago o seu conceito para poderem ser utilizados com esse nome na análise sintáctica. Quer maior modificador do que o sujeito, impondo obrigatoriamente ao verbo o seu número, o seu género e, ainda, tantos outros traços?

E o complemento directo? Atente nas frases: hoje parti / hoje parti um copo . O que é que faz com que o 2º parti signifique quebrar ? É o seu complemento directo! Então, o c.d. é um modificador. E é, de facto! Já viu que, por esta lógica, tudo na frase, exceptuando talvez o verbo, seja modificador?

Deveremos, pois, reconhecer a existência de modificadores, mas atribuir a cada tipo de modificador uma classificação própria. A TLEBS mete-os todos, indiscriminadamente, num só saco - e é por generalizar tanto essa classificação que a esvazia de qualquer sentido.

Eu dizia acima, e repito agora:

A validade da análise sintáctica terá de ser sempre aferida pela sua capacidade de nos revelar o sentido da frase . A análise sintáctica só existe para isso.

E penso que é altura de dizermos claramente que não nos devemos ater muito à TLEBS. Então, não é um dado oficial que ela está a ser revista? Algo nela está mal - ou não?

 Antes de terminar, pretendo ainda referir-me à sua segunda intervenção do dia 9: parece-lhe que tanto faz usar uma como outra daquelas 2 frases:

De retalhos, fiz uma manta / Fiz uma manta de retalhos.

Na primeira, de retalhos constitui um núcleo nominal preposicionado com função autónoma na frase e exprime origem (complemento circunstancial de origem). Na segunda, de retalhos é, igualmente, um nome preposicionado; porém, ligado a manta , forma um núcleo nominal complexo: manta de retalhos , cuja função é ser complemento directo.

Na primeira frase, de retalhos ocupa uma posição topicalizadora ou de realce; na segunda, uma posição secundarizada, apagada em favor do outro nome com o qual forma o tal núcleo nominal complexo. Parecem-lhe iguais as duas frases? Mas não!

Na análise gramatical não existe "tanto faz".

Virgílio Dias

Filomena Viegas - segunda-feira, 12 Fevereiro 2007, 10:32

Bom dia, Virgílio.

(i) Concordo consigo quando diz que a semântica tem escopo sobre a sintaxe; associo até a pragmática à semântica. Em relação à sua obervação “se uma terminologia não fornecer termos diferentes para situações diferentes, estamos perante uma má terminologia ”, penso em primeiro lugar nos alunos do Ensino Básico. É com eles que teremos de trabalhar os conteúdos gramaticais com que nos estamos a preocupar.

Se conseguirmos encontrar uma descrição da língua que permita análises e classificações mais simples e mais lógicas para os alunos, essa será a melhor descrição. A proliferação de termos num sistema de classificação gramatical não é sinal nem de economia nem de elegância da análise linguística.

(ii) Volto à oposição entre Modificador e Complemento. É preciso não confundir os respectivos conceitos:

Modificador --» opcional, não seleccionado, não exigido, não argumental, facultativo
Complemento --» não opcional, seleccionado, exigido, argumental, obrigatório.

O Sujeito, o Complemento directo, o Complemento indirecto, o Complemento agente da passiva, bem como outros complementos adverbiais, preposicionais ou frásicos, quer sejam exigidos pelo verbo quer sejam exigidos pelo nome, não podem ser classificados como Modificadores.

Quando dizemos que o português é uma língua de sujeito nulo, não estamos a dizer que é de sujeito facultativo. O sujeito é obrigatório, ainda que a sua posição não seja ocupada por uma palavra. E porque o sujeito é obrigatório, posso retomá-lo, num enunciado, através de termo anafórico:

(a) Ø Saiu sem guarda-chuva e Ø não levou a gabardina; a minha filha vai ficar encharcada com a chuva.

O conceito de anáfora é uma das provas do que disse na primeira linha: a semântica frásica e a pragmática dão-nos instrumentos poderosíssimos de análise da língua.

(iii) Sobre a possibilidade de o “Modificador” poder vir a ser dos termos revistos, porque relevando de um conceito incoerente, obscuro, errado, cito um excerto do texto de João Andrade Peres, que contém as críticas científicas mais duras à TLEBS.

“É indiscutível que a TLEBS apresenta muitos aspectos positivos (…); na Sintaxe, a introdução do conceito de tipo de frase, da função de modificador e da noção de elipse.”

Qualquer que seja o resultado da revisão da Tlebs, gostaria de pensar que ela vai relevar da preocupação em fornecer aos alunos e aos professores instrumentos cada vez mais económicos e rigorosos de análise da língua.

Boa semana para todos.

FViegas

Filomena Viegas - segunda-feira, 12 Fevereiro 2007, 11:04

Bom dia, Luís.

Corroboro a análise: quando "Fiz uma manta de retalhos " tem a interpretação de "Fiz uma manta com retalhos", de retalhos integra o complemento directo do verbo "fazer" e é modificador do nome "manta", restringindo-lhe o sentido. Na interpretação em que "manta de retalhos" é uma expressão lexicalizada (um tipo de manta, vide Morfologia), estamos perante uma palavra de pleno direito (manta-de-retalhos) com a função sintáctica de Complemento directo, não havendo, portanto, lugar para a função de Modificador do nome.

FV
Virgílio Dias - terça-feira, 13 Fevereiro 2007, 18:00

Filomena

Finalmente! Parece-me que já estamos parcialmente de acordo! Com o tempo, espero, a Filomena concordará comigo em muitas mais coisas.

Mas...temos de reconhecer que há uma atitude marcadamente diferente a colocar-nos em campos opostos: é que, para mim, a gramática nunca pode ser mutilada para poder ser ministrada a qualquer grau de ensino! Não é admissível a hipótese de a TLEBS ser condicionada pela capacidade intelectual dos alunos do Ensino Básico.

Mas...são suas estas palavras:

penso em primeiro lugar nos alunos do Ensino Básico. É com eles que teremos de t rabalhar os conteúdos gramaticais com que nos estamos a preocupar .

Quem terá de pensar neles são os respectivos professores que terão de conhecer profundamente a Gramática, e servi-la nas doses que acharem convenientes.

A Gramática é uma referência permanente de correcção e de descrição da língua. A partir da Gramática pode, e deve, surgir o que podemos chamar as tais gramáticas que a preocupam: a gramática dos diferentes ciclos do Básico ou do Ensino Secundário. Mas essas gramáticas não são para aqui chamadas. Aqui só devem ser discutidos os princípios da Gramática. Ou não será este fórum uma discussão entre professores, ou seja, entre profissionais da Gramática?

Modificadores: a Filomena reconhece que eu sei o que são modificadores. E não duvidará de que sei exactamente qual a sua função. Porque o sei, é que eu insisto na absoluta necessidade de serem classificados os modificadores em função do sentido que eles aportam à frase. E não podemos recear a incompreensão dos alunos. Eles só terão dificuldade na aprendizagem, se o professor não conhecer profundamente o que ensina.

Há, neste nosso país, Escolas Superiores de Educação que licenciam para o Ensino Básico professores a quem nunca foi ensinada Gramática. Não se espante! É verdade! Como poderão os alunos aprendê-la?

Espero que a revisão da TLEBS nos proporcione ferramentas para relevarmos o sentido exacto de cada frase - e que a análise sintáctica volte a ser um meio que faça desabrochar, perante os olhos extasiados e surpreendidos dos nossos alunos, o sentido duma estrofe dos Lusíadas.

Virgílio Dias

Luís Filipe Ramos - quarta-feira, 14 Fevereiro 2007, 01:07

Virgílio,

Às vezes, as discussões tornam-se estúpidas por causa de equívocos linguísticos. Neste caso, serei eu provavelmente a origem do problema. Qual será a diferença entre "critério de verificação" e "escopo"? Por outras palavras, em que medida é que podemos definir semanticamente uma função sintáctica? Até ao ponto em que semântica não se confunde com sintaxe.

No caso em apreço, modificadores e complementos, a definição é sintáctica, tem a ver com "o estudo das ligações internas que prendem umas às outras as diversas palavras da frase".

Repare nas duas frases:

"Eu moro em Lisboa"

"Eu almocei em Lisboa"

Em termos semânticos, pode perfeitamente dizer que o sintagma "em Lisboa" expressa a função semântica de lugar, ou de "locativo", como lhe chama a Maria Helena Maria Mateus. Mas a sua inserção faz-se diferentemente nas duas frases. Na primeira, é exigida pelo verbo. É uma exigência semântica que tem uma resposta sintáctica. Na segunda, o sintagma não é exigido pelo verbo "almoçar". Em termos sintácticos, necessitamos de conceitos que dêm conta deste facto. Na primeira, temos um complemento preposicional, na segunda, temos um modificador preposicional.

Neste caso, temos o contrário do que enunciei: a mesma função semântica, a mesma sequência de palavras, mas funções sintácticas diferentes.

A realidade é feita de uma infinita diversidade. Enquanto nos mantivermos no diverso, não temos ciência. A conceptualização resulta de generalizações sucessivas. De distinções necessãrias à inteligibilidade do real. Se os conceitos surgirem casuisticamente e se se multiplicarem de modo desmesurado, perdem-se as distinções mais importantes, numa amálgama de análise sintáctica com semântica e pragmática.

Não vejo problema nenhum em dizermos que os complementos e os modificadores preposicionais expressam lugar, tempo, modo, companhia, origem, direcção, posição, etc... (não estou a ser semanticamente rigoroso).

O Virgílio diz que "não é possível uma classificação igual para situações diferentes". O problema é que se confundem níveis linguísticos: palavras diferentes em termos morfológicos desempenham a mesma função sintáctica; sintagmas com funções semânticas diversas têm a mesma função sintáctica. O inverso também é verdadeiro: a mesma sequência morfológica com funções semânticas diferentes; a mesma função semântica em funções sintácticas diferentes.

O Virgílio afirma que em "hoje parti um copo", o complemento directo é modificador de "partir". Isso, talvez seja exacto, na sua definição de "modificador", pois nunca a vi em mais ninguém. A sequência "partir" tem duas entradas lexicais. Ao acrescentar o complemento directo está a identificar qual delas é e não a modificar o sentido do verbo!

Concordo com o que diz sobre a diferença que resulta da mudança de posição do grupo "de retalhos" na frase que enunciei.

Obrigado

Virgílio Dias - quinta-feira, 15 Fevereiro 2007, 09:41

Luís Filipe

Vamos analisar as suas frases:

(1) Eu moro em Lisboa

(2) Eu almocei em Lisboa

É evidente que, em ambas, há uma expressão de lugar: em Lisboa. E, na análise gramatical, esse é um facto relevante. Em Lisboa é, inequivocamente, um locativo.

Mas essa expressão locativa, sintacticamente, tem motivações diferentes numa frase e noutra. Na frase (1), em Lisboa está obrigatoriamente ligada ao verbo morar . Dizemos, nestes casos, que o verbo morar rege (exige) um complemento obrigatório, ou, simplesmente , um complemento , ou, ainda, um complemento argumental . Seria agramatical dizer: * Eu moro.

Na frase (2) Eu almocei em Lisboa não temos obrigação nenhuma de dizer onde almoçámos. Poderíamos dizer: Eu almocei bem , ou Eu almocei mal , sem revelarmos onde almoçámos. Se o dizemos é só por querermos, e não por a língua nos impor isso.

Mas, uma vez que o dizemos, em Lisboa é um locativo, igualzinho ao da primeira frase.

Portanto, semanticamente, aqueles constituintes têm o mesmo valor: são locativos.

E, sintacticamente?

Na frase (1) em Lisboa é um complemento argumental ; na frase (2) em Lisboa é um complemento circunstancial .

Na frase (1) Eu moro em Lisboa , há um complemento argumental de lugar; na frase (2) há um complemento circunstancial de lugar.

Diz o Luís Filipe que na frase (2) em Lisboa é um modificador . Do quê, Luís Filipe?

Só há modificador quando houver algo modificado!

Se dissermos:

eu almocei bem em Lisboa / eu almocei mal em Lisboa / eu almocei apressadamente em Lisboa ...

estamos a recorrer a modificadores do verbo, e, logo, da acção.

Imagine-se na posição de um artista que desenhasse cada uma daquelas frases. Cada uma delas teria um desenho diferente, porque cada uma diz (predica) algo diferente de todas as outras.

Mas se o artista desenhasse, apenas, a frase eu almocei bem em Lisboa , o desenho poderia repetir-se para outro bom almoço em Coimbra, no Porto ou em Castelo Branco. Porque os locativos não são modificadores!

Resumindo:

Em Lisboa , na frase (2) não é modificador. É informação opcional, circunstancial.

Em Lisboa, na frase (1) é um complemento argumental locativo.

Os modificadores são muito importantes; devemos reconhecê-los - e, em cada caso, descobrir qual a função que desempenham na revelação do sentido da frase. O tratamento que a TLEBS lhes dá, e que eu espero seja modificado, não tem em conta o sentido da frase. Mas...a sintaxe só existe para nos ajudar nessa descoberta !

Luís Filipe Ramos - quinta-feira, 15 Fevereiro 2007, 22:24

Virgílio,

Agrada-me verificar que estamos de acordo em que um sintagma não deve ser considerado circunstancial quando constitui um argumento exigido pelo verbo. Eu não teria problema em utilizar o termo "complemento circunstancial" para os casos em que é opcional. Trata-se de um problema de definição do termo, para sabermos do que falamos.

É a primeira vez que vejo o termo "complemento argumental locativo".

E continuo a considerar obscura a distinção entre "modificar" e "acrescentar informação".

Há um modificador em "almoçar bem", mas não em "almoçar em Lisboa"?!

Considere os seguintes casos: "almoçar com satisfação"; "almoçar tardiamente"; "almoçar em pé". Em quais é que, em seu entender, há modificadores de "almoçar" e quais são circunstanciais? Acho bem estranha esta classificação, pois o "modo" ("almoçar bem ") é considerado uma das circunstâncias em várias das gramáticas de que disponho.

Filomena Viegas - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 09:55

Bom dia Virgílio,

Por favor, não leia nas minhas palavras o que elas não dizem. A sua afirmação “Não é admissível a hipótese de a TLEBS ser condicionada pela capacidade intelectual dos alunos do Ensino Básico.” não pode ser concluída do que escrevi e que cita “penso em primeiro lugar nos alunos do Ensino Básico. É com eles que teremos de t rabalhar os conteúdos gramaticais com que nos estamos a preocupar. Neste enunciado não se diz nada sobre a capacidade intelectual (ou incapacidade intelectual) dos alunos do ensino básico e será  grave se dele se puder inferir tal conclusão. Atenção que  capacidade intelectual não é equivalente a estádio de desenvolvimento da criança.

Quando se usa o termo “básico” por oposição a “secundário” e se diz que é necessário desenvolver as competências básicas, essenciais, no ensino básico, (ainda que, e todos sabemos disso, muitos alunos cheguem ao ensino secundário sem terem desenvolvido essas competências básicas), não está em causa a capacidade intelectual do aluno (da criança)  mas o seu estádio de desenvolvimento cognitivo, afectivo, social, cultural,...

FViegas

Filomena Viegas - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 10:07 Bom dia Virgílio e Luís,

Volto às duas etiquetas: complemento e modificador.

Se eu tiver ao meu dispor um nome mais exacto ( Modificador) do que outro ( complemento circunstancial ) para designar um fenómeno, porque uso o menos exacto?

Só o verbo ou o nome exigem complemento. Se o exigem é porque o complemento é um constituinte que equivale a uma falta [-] na frase.

À frase, ao grupo verbal, ao nome podem acrescentar-se modificadores. Os modificadores não são constituintes exigidos, não equivalem  a uma falta na frase, pelo contrário, são um [+] na frase.

Como explico estes conceitos aos alunos do 2.º ciclo? (reporto-me apenas aos conteúdos do programa do 2.º ciclo e ao CNEB). Primeiro levo-os a explorar frases com exemplos fornecidos por mim e encontrados por eles. Na sistematização vou recorrer a velhas metáforas:

1. Um complemento é para um verbo o que um telhado é para uma casa: sem complemento o verbo não está completo, sem telhado a casa não está completa.

2. Um modificador é para o grupo verbal ou para a frase o que o ar condicionado é para uma casa, sem ar condicionado a casa continua completa, mas com ar condicionado tem uma temperatura mais agradável.

A minha metáfora não configura uma escolha muito ecológica, mas aponta no sentido desejado “ os modificadores enriquecem as frases, são desejados  para um melhor convívio das palavras nos textos.”

FViegas

Eliana Neves - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 14:05 Concordo consigo, Filomena, e gosto dessa explicação :)

E porque não «anexar» a definição de «circunstancial de...» ao «modificador.
Penso que a distinção entre complemento e modificador é demasiado básica para o treino de análise textual. Assim como nas frases subordinadas adverbiais se explicita o «significado» de cada uma das «circunstâncias» expressas, o mesmo se poderia fazer com os «modificadores».
Eliana Neves - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 14:38 Acrescentei neste esquema que fiz o ano passado, a vermelho, a terminologia alternativa.
Eliana Neves - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 16:45 Volto aqui à minha insistente divergência...

Na frase «A irmã da Paula comprou um bolo.» «da Paula» é, sintacticamente, telhado ou ar condicionado?

Sempre fiz os meus alunos o exercício de reduzir ao mínimo gramatical as frases e, o inverso, acrescentar informação acessória a uma frase reduzida ao mínimo.
Como vou eu agora conseguir convencê-los de que «da Paula» é «necessário» do ponto de vista sintáctico?
Luís Filipe Ramos - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 18:25

Eliana,

No exemplo que sugeriu, eu não teria a menor dúvida em dizer que "da Paula" é um complemento, pois "irmão" é um nome de parentesco, relacional, portanto. Embora a frase ficasse sintacticamente correcta sem o complemento, estaria suposta a sua elisão.

Filomena Viegas - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 18:53

Olá Eliana,

Julgo que o seu esquema para as funções sintácticas (referência à Tlebs) ainda precisa de alguma afinação. Não é necessário o termo «circunstancial» junto a modificador, uma vez que ambos significam «não essencial» ou «circunstante». Quanto aos valores expressos pelos complementos circunstanciais, e tal como também já tinha sugerido o Luís Ramos, pode ser vantajoso conservá-los na descrição dos modificadores de grupo verbal ou de frase. No seu esquema, os antigos complementos determinativos parecem ficar reunidos nos modificadores. A ligação de complemento determinativo a complemento do nome (na Tlebs) parece-me a que deve ser escolhida, mas não tenho ainda uma reflexão concluída. Quanto à função sintáctica do constituinte da Joana em «irmã da Joana», de acordo com a metáfora que utilizei, é Complemento do nome, logo, "telhado" e não "ar condicionado" :) . Nas intervenções no tópico Modificadores vs Complementos já tivemos oportunidade de reflectir sobre esta exigência de complemento por parte  dos nomes de parentesco. Julgo que a Inês Pinto o explicou de uma forma muito clara.

FViegas

Eliana Neves - sexta-feira, 16 Fevereiro 2007, 20:20 «A ligação de complemento determinativo a complemento do nome (na Tlebs) parece-me a que deve ser escolhida, mas não tenho ainda uma reflexão concluída.»
Nestes exemplos
A mesa de madeira
O caixote de metal
não podemos dizer que são complementos. Têm de ser modificadores (embora eu considere que deviam ser todos modificadores :), pelo menos para os nossos alunos). (eu sei que sou chata)

O esquema original é uma transcrição da bd da TLEBS.
O que está a vermelho são os ajustes que eu gostaria de ver contemplados por serem mais rigorosos na identificação da função dos modificadores na frase. Esta não é só uma opinião minha. É a de colegas, com quem converso, que também assim o entendem.
Virgílio Dias - sábado, 17 Fevereiro 2007, 12:54

Luís Filipe Ramos ( Respondo ao seu pedido do dia 15)

Propõe-me o Luís a análise de três casos concretos. Vamos, pois, analisá-los, e discuti-los, que para isso é este fórum.

1 - almoçar em pé. [ Almoçar em pé provoca más digestões]

Será que em pé modifica o verbo almoçar ?

a) - Se representarmos (desenhando) esta noção almoçar em pé , ela é diferente de outras em que não esteja presente aquele constituinte. Então, em pé , é um modificador.

b) - Outro modo de ver se estamos, ou não, perante um modificador é a própria leitura: poderemos separar por uma pausa em pé do verbo almoçar ? Não. Então, em pé é um modificador.

E não é um facto que almoçar em pé é diferente de almoçar à pressa , almoçar a correr , almoçar calmamente , etc.? Em todos esses casos, o verbo foi modificado.

2 - almoçar tardiamente [ Almoçar tardiamente faz mal à saúde]

a) - Pelo critério da representabilidade, almoçar tardiamente é, de facto, diferente de outras situações: almoçar a horas, almoçar cedo, almoçar ao meio-dia...

b) - Pela leitura sem pausa, confirma-se que também a própria língua nos denuncia a presença de um modificador.

Nestes dois casos em pé e tardiamente são, inequivocamente, dois modificadores. Mas o que eu tenho dito sempre, e me parece indispensável, é que devemos ir mais além, e identificar qual a validade semântica de cada um desses modificadores.

A noção de Modificador, na TLEBS, parece-me ter excessivo predomínio da função sintáctica. Porque esta tem como finalidade a descoberta do sentido da frase, eu defendo que o constituinte em pé deva ser classificado como modificador de modo, ou circunstancial de modo ,... enquanto tardiamente seria circunstancial de tempo .

Há Autores que defendem que os circunstanciais deveriam ser diferenciados: complementos , se forem regidos pelo verbo; suplementos , se forem de uso opcional.

Assim:

Eu moro em Lisboa : em Lisboa seria um complemento circunstancial de lugar.

Eu hoje almocei bem em Lisboa : em Lisboa : suplemento circunstancial de lugar.

E era também aqui que a TLEBS poderia inovar, realçando o papel dos modificadores, diferenciando complementos circunstanciais (os complementos argumentais) dos modificadores circunstanciais ( os constituintes de uso opcional). A Gramática, e os nossos alunos, ganhariam muito com isto.

3 - almoçar com satisfação

Enquanto almoçar em pé e almoçar tardiamente formam, nas frases analisadas, unidades significativas (predicados), almoçar com satisfação constitui um caso muito diferente. Mas insiramos já esta constituinte numa frase, que é onde a análise deve ser feita.

- João almoçava com satisfação no restaurante da esquina .

Apesar de parecer integrar o predicado, aquele constituinte não faz parte dele. Com satisfação é um atributo do sujeito, não do predicado. Seria mais clara a frase:

- João, com satisfação, almoçava no restaurante da esquina.

Se recorrermos ao critério da representabilidade, a satisfação estará sempre, e só, ligada ao João;

Se nos ativermos ao critério da leitura, veremos que podemos ler João almoçava / com satisfação / no restaurante da esquina, mesmo que não tenhamos lá a vírgula.

É que com satisfação não é modificador do predicado.

Abordemos, agora, esta frase sob outro ponto de vista: de que se fala nela? E que se diz?

- Fala-se só do João e dele se dizem duas coisas:

          - que almoçava no restaurante da esquina - (predicado)

          - com satisfação - (predicativo, ou predicado secundário)

Mas poderemos classificar com satisfação como modificador? Sim, um modificador do nome João, que é sujeito. Mas é insuficiente tal classificação. Teremos de ir mais além e chamar-lhe o que ele é de facto: um predicativo do sujeito .

Bem sei que há quem não concorde com esta análise.

Quem assim não pensar, e quiser discuti-la, venha a terreiro; apresente argumentos contra esta e a favor de uma outra que possa ter. Da discussão poderá nascer a luz.

Virgílio Dias

Eliana Neves - sábado, 17 Fevereiro 2007, 17:19

Como explico a sintaxe aos alunos?

Do ponto de vista sintáctico primeiro defino o que é uma frase:

Conjunto de palavras com um único verbo pertencente à classe dos verbos principais ou à classe dos verbos copulativos e em que se encontram realizados o sujeito e os complementos exigidos / seleccionados por estes. (transcrição parcial da TLEBS)

Assim, a unidade mínima sintáctica de frase é um qualquer nome (não interessa se é epistémico, deverbal, de parentesco ou icónico) e o verbo que tem de surgir expresso . Se este verbo é copulativo temos de ter um predicativo do sujeito; se é transitivo directo, um complemento directo; se é transitivo indirecto, um complemento indirecto; se é transitivo directo e indirecto, um complemento directo e um indirecto; se é locativo (que não surge na TLEBS), um complemento circunstancial de lugar; se é intransitivo, não é necessário um complemento.

Assim, a unidade mínima de frase seguinte é correcta:

João almoçava.

Temos um nome e um verbo principal intransitivo - sujeito e predicado.

Tudo o que aqui se acrescente é opcional, é circunstante, é modificador, é «ar condicionado».

Com satisfação, naquele dia solarengo, João, com o seu fato de Domingo, almoçava tranquilamente no restaurante da esquina.

Só há um verbo principal que se realiza aqui como intransitivo . Sendo assim (e não havendo um verbo copulativo) não haverá «espaço» para um predicativo do sujeito.

Todos os «acessórios» modificam, todos eles podem ser deslocados na frase, todos eles acrescentam informação diversa que deve ser clarificada (tempo? Modo? Lugar?...)

_____________________________________

Agora, voltando ao meu cavalo-de-batalha, regresso aos complementos do nome.

Repare-se na seguinte frase:

Com satisfação, naquele dia solarengo, o irmão do João ( ou o irmão mais velho), com o seu fato de Domingo, almoçava tranquilamente no restaurante da esquina.

A unidade sintáctica mínima de frase, aqui, é

O irmão almoçava.

E não

O irmão do João almoçava Ou O irmão mais velho almoçava .

do João e mais velho não podem ser deslocados na frase, pois estão ligados a João . Mas, sintácticamente, não são obrigatórios. Não sendo obrigatórios, são opcionais. Sendo opcionais são «ar condicionado».

Eliana Neves - Saturday, 17 February 2007, 17:47

Se pretendesse classificar sintacticamente as frases apresentadas pelo Virgílio, eu diria:

Almoçar em pé provoca más digestões

Almoçar em pé sujeito (verbo substantivado = ideia de almoçar + modificador preposicional de modo «em pé»)

provoca más digestões – predicado (verbo transitivo directo + complemento directo, que por sua vez é um grupo nominal constituído por um nome e um modificador adjectival)

Eu moro em Lisboa

Eu - sujeito

moro em Lisboa – predicado (verbo locativo + complemento preposicional de lugar)

Eu hoje almocei bem em Lisboa

Eu - sujeito

Almocei bem – predicado (verbo + complemento adverbial de modo - não pode ser deslocado por perda de sentido em contexto )

hoje – modificador adverbial de tempo da frase ( na TLEBS dentro do predicado )

em Lisboa – modificador preposicional de lugar da frase ( na TLEBS dentro do predicado )

João almoçava com satisfação no restaurante da esquina .

João - sujeito

Almoçava - predicado

com satisfação - modificador preposicional de modo da frase ( na TLEBS dentro do predicado ) .

no restaurante da esquina modificador preposicional da frase (grupo preposicional + modificador preposicional do nome «restaurante») ( na TLEBS dentro do predicado )

Gostava que me corrigissem.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Virgílio Dias - Sunday, 18 February 2007, 11:02

Eliana

Só quem sabe é que tem dúvidas. Também eu continuo com elas, apesar de estudar isto há muitos anos. Algumas fui-as já resolvendo. O pior é que vão surgindo muitas mais. E é cada uma! Partilho consigo e com todo o fórum algumas das minhas hipóteses.

1. O Complemento Circunstancial.

São complementos circunstanciais (modificadores circunstanciais?) apenas aqueles constituintes que dependem, ou são regidos por verbos. Quando tal não acontece, não há circunstanciais.

2. Por isso, sempre que um constituinte é complemento ou modificador de nome não é circunstancial.

3. Verbo copulativo é um predicador sem representabilidade. Que quero eu dizer com isto? Muito simplesmente que ele é vazio de qualquer sentido. Já se imaginou a fazer um desenho do verbo ser ? O nada não é representável. Se o verbo copulativo nada significa, ele não pode predicar.

Não compreendo porque é que a Eliana insiste na falta do verbo copulativo para admitir a existência de predicativo do sujeito! Predicar é dizer algo. Ora, verbo copulativo não diz nada!

Mais: se o copulativo estiver presente, não temos predicativo nenhum; temos predicado. O verbo copulativo não é predicado, é predicador. Só serve para juntar um predicado a um sujeito.

Mas exemplifiquemos já, que tudo isto se tornará mais claro:

João é simpático : suj: João; pred: é simpático.

Para que serviu o verbo ser ? Só para ligar ao sujeito aquilo que dele dizíamos (predicado). Logo, simpático é o verdadeiro predicado. A análise deveria, pois, omitir, nestes casos, qualquer referência a predicativo, que não o há nesta frase.

João, com muita simpatia , chamou-me para almoçar : suj: João; pred: chamou-me; me: c.d.; para almoçar : compl. ou suplemento circunstancial de fim.

com muita simpatia: predicativo do sujeito. É aqui que está a sua dificuldade. Bem sei que isto vai contra toda a tradição de análise. Mas...é para isso que devem servir estes fóruns.

Que é um predicativo? Muito sumariamente, um predicado secundário. Predicado é o que dizemos do sujeito: João chamou-me . Mas não dizemos também do sujeito: com muita simpatia?

Qual o único referido de com muita simpatia ? Não é o sujeito?

Naquela frase fazemos duas afirmações acerca do João: que me chamou (predicado principal); e, ainda dele dizemos: com muita simpatia .

João, simpático, chamou-me para almoçar - simpático: predicativo do sujeito.

PS. Tinha-me proposto alguma contenção nestas intervenções. Mas...não resisti e ...cá estou eu outra vez. Prometo que vou agora parar pelo menos uma semana.

Bom Carnaval a todos, boa Gramática sempre!

Virgílio Dias

Filomena Viegas - Sunday, 18 February 2007, 11:28

Bom dia Eliana .


Na frase João almoçava com satisfação no restaurante da esquina .
pensando os alunos, eu incluiria no predicado, tal como é proposto na Tlebs, os modificadores que a Eliana considera de frase. Estes modificadores só têm escopo sobre a predicação, não sobre a frase, isto é, referem-se directamente ao predicador almoçar e ao seu argumento externo João .

Numa frase como Felizmente, o João almoçava com satisfação no restaurante da esquina . felizmente , enquanto modificador, apresenta um comportamento diferente, tem escopo, alcance, sobre toda a frase, uma vez que se trata de um advérbio referenciado ao enunciador da frase e não ao agente de “ almoçar”. Neste caso, temos um modificador de frase.

Quanto ao constituinte “ bem ”, na frase Eu hoje almocei bem em Lisboa, ele funciona exactamente como “com satisfação”, uma vez que os podemos até comutar na frase . Reduzida aos seus constituintes essenciais, a frase pode dizer-se João almoçava . Trata-se, pois de um modificador do predicado. Julgo que aceita uma frase em que ocorre a topicaliza ção de “bem”. Bem, almoçava o João no outro restaurante, n ão neste.

Quanto ao “velho” complemento da Joana em “irmäo da Joana”, n ão se esqueça de que o sujeito também n ão tem muitas vezes realização nas frase, mas não é por isso que deixa de ser essencial e passa a ter estatuto de modificador ( n ão essencial).

Um abraço.

FilomenaV.
Eliana Neves - domingo, 18 Fevereiro 2007, 19:04

Virgílio,

Eu compreendo a perspectiva que apresenta: «simpático» como predicativo de «João». Mas nesta frase

João, simpático, chamou-me para almoçar

Nunca lhe chamámos isso. Chamávamos:

1. «atributo» do nome, com a mesma função de 2. «rapaz simpático» - aposto ou 3. «que era simpático» - oração relativa (aqui simpático como predicativo do sujeito, mas com duas orações)

OBS: A menos que o Virgílio já analisasse assim, considerando que se podem subentender, também, verbos.

Ainda hoje conheço quem insista com os alunos a fazer isto:

O João bebeu sumo e café. «O João bebeu sumo» - oração coordenada «e café» - oração coordenada copulativa sindética. (considerando que o verbo está subentendido).

Claro que é verdade, MAS tem de haver regras base para clarificar/facilitar aos nossos alunos uma análise sintáctica lógica e eficaz, sem complicações desnecessárias. Voltando ao que antes eu disse, uma frase é (e tem de ser) um conjunto de palavras com um único verbo pertencente à classe dos verbos principais ou à classe dos verbos copulativos e em que se encontram realizados o sujeito e os complementos exigidos / seleccionados por estes.

Esta frase só tem um verbo. Logo, é uma frase simples.

Filomena,

1º Aspecto – os complementos e modificadores do nome

‘Quanto ao “velho” complemento da Joana em “irmäo da Joana”, n ão se esqueça de que o sujeito também n ão tem muitas vezes realização na frase, mas não é por isso que deixa de ser essencial e passa a ter estatuto de modificador ( n ão essencial).'

O sujeito nunca modifica... Por isso, é sujeito.

O elemento central da frase é o verbo. Que tem SEMPRE um sujeito, exceptuando o expletivo.

O problema põe-se quando se exige algo que não é obrigatório, NUNCA. É o mesmo que dizer que na NGP todos estes sujeitos teriam de ser seguidos de um complemento determinativo ou de atributo. E isto é o que nos diz a obrigatoriedade quanto aos identificados (epistémicos, icónicos, deverbais e de parentesco).

2º aspecto – os modificadores de frase na TLEBS

Felizmente, o João almoçava com satisfação no restaurante da esquina .

Repare que « Felizmente » em NADA modifica a frase. Modifica apenas o MODO como o enunciador encara o que é enunciado na frase.

Nada muda em «o João almoçava com satisfação no restaurante da esquina .» Muda a forma como o enunciador se posiciona em relação ao enunciado – é o seu ponto de vista avaliativo . Estes (certamente, efectivamente, naturalmente, realmente, possivelmente, provavelmente, felizmente, infelizmente, francamente, obviamente... ) DEVIAM ter uma qualquer outra designação, por exemplo, a que adquirem os advérbios nas classes de palavras – ou seja, poderiam talvez chamar-se DISJUNTOS (AVALIATIVOS/APRECIATIVOS/VALORATIVOS/MODAIS).

Os modificadores «com satisfação» e «no restaurante da esquina»acrescentam informação acessória ao núcleo sintáctico «O João almoçava». «Felizmente» não acrescenta qualquer informação. Não faz parte da unidade sintáctica. Não modifica a unidade sintáctica. Marca apenas o ponto de vista do enunciador . Por isso, sintacticamente, deviam ter esse outro qualquer nome.

3º aspecto – modificadores de frase e verbais

Reduzida aos seus constituintes essenciais, a frase pode dizer-se João almoçava. Trata-se, pois de um modificador do predicado. Julgo que aceita uma frase em que ocorre a topicaliza ção de “bem”. Bem, almoçava o João no outro restaurante, n ão neste.

Este «bem» continua a estar inerente a «almoçava» e adquire aqui apenas um valor de reforço /enfático que lhe é conferido pela topicalização. Enquanto os outros, topicalizados, não adquirem esse valor.

Um abraço, e um divertido Carnaval...

Luís Filipe Ramos - domingo, 18 Fevereiro 2007, 20:33

"João, com satisfação, almoçava no restaurante da esquina"

Esta frase parece-me agramatical ou uma anástrofe que me levaria de acordo com a máxima de Grice da cooperação, a tentar descobrir a intenção da troca de posição do grupo "com satisfação".

Mesmo em termos semânticos, parece-me que "com satisfação" refere-se ao acto de almoçar.

Luís Filipe Ramos - Sunday, 18 February 2007, 21:16

Eliana,

Para mim, a questão que está a colocar é entre a explicitação ou não do complemento.

Imagino que chego a casa e pregunto à minha filha:

- Comeste?

Ao que ela me responderá:

- Sim, comi!

Serão estas frases agramaticais ou consideraremos que o verbo comer tem um uso intransitivo ou que o complemento não está expresso, mas "subentendido"?

Podíamos colocar nas frases um objecto directo como "alguma coisa", ou "não interessa o quê".

Quando analisamos o verbo "comer" em termos potenciais, concluímos que comer tem sempre dois argumentos, um sujeito (agente, em termos semânticos) e um complemento (objecto).

Se fizermo o mesmo com "irmão", concluímos que "irmão" necessita também de um complemento "irmão de alguém " . Acontece o mesmo com "necessidade de alguma coisa " .

Quando não explicitado, está suposto, como já conhecido. Ou trata-se de irmão de todos os outros, ou particularmente daquele que enuncia, como vocativo.

Luís Filipe Ramos - Sunday, 18 February 2007, 21:29

Não entendo isto mesmo no sentido semântico mais elementar.

Parece-me que "com simpatia" é uma maneira de chamar. Estamos a "predicar" (modificar) o acto de chamar, não o João.

Podia até dizer-se,

Antipático, o João chamou-nos com simpatia.

Se confundirmos semântica com sintaxe, a quantidade de proposições pressupostas na frase nunca mais acaba.

Luís Filipe Ramos - Sunday, 18 February 2007, 21:32

Uf! Até que enfim!

Obrigado!

Assunção Caldeira Cabral - Thursday, 22 February 2007, 16:55

Modificadores (40 intervenções)

Síntese

A discussão centrou-se principalmente nos modificadores do grupo verbal. Assim, é exclusivamente sobre este tipo de “modificação” que vai incidir esta síntese.

Para o colega Virgílio, que iniciou a discussão neste fórum na sequência de uma resposta dada por mim ao ciberdúvidas, o termo “modificador” cobre «um conceito demasiado vago para poder ser utilizado com esse nome na análise sintáctica». Propõe então que se dê uma classificação própria a cada tipo de modificador: «ao metê-los todos no mesmo saco, a TLEBS generaliza tanto que esvazia o termo de qualquer sentido (intervenção de 13 de Fev)». Em resposta à colega F.Viegas, o colega Virgílio diz: «insisto na absoluta necessidade de serem classificados os modificadores em função do sentido que eles aportam à frase».

O termo “modificador” inscreve-se, na TLEBS, no sub-domínio da Sintaxe. Designa uma função sintáctica e por isso, como diz o L.Filipe Ramos, «tem a ver com o estudo das ligações internas que prendem umas às outras as diversas palavras da frase» (intervenção de 14 de Fev.). Na verdade, como sabemos, quer os grupos preposicionais quer os adverbiais estabelecem com o núcleo verbal do Predicado diferentes tipos de dependência estrutural e lexical. Mantendo-nos no plano da análise sintáctica, a distinção básica, como afirma L.F. Ramos na resposta que deu à Eliana a 18 de Fev., é entre Complementos e Modificadores.

Ao construir uma frase com um Predicado Verbal, o Verbo que escolhermos, enquanto unidade lexical, traz indissociavelmente associados o número e natureza dos argumentos que têm de ser sintacticamente realizados. Porque lhe são inerentes, fazem parte intrínseca da estrutura argumental dominada pelo Verbo.

(i) No Inverno anoitece cedo (estrutura argumental sem argumentos externos ou internos);

(ii) Esta noite, o Pedro acordou com um pesadelo (estrutura argumental apenas com um argumento externo(o Pedro))

(iii) A Maria venceu este ano as olimpíadas de matemática em Londres (estrutura argumental constituída por um argumento externo (a Maria) e um interno (as olimpíadas de matemática)

(iv) A Teresa levou a carta ao pai (estrutura argumental constituída por um argumento externo (a Teresa) e dois internos (a carta; ao pai)

(v) Ontem, o João convidou a Maria para a festa (estrutura argumental constituída por um argumento externo (o João) e dois internos (a Maria; para a festa)

Nesta lista de exemplos, apenas em (iv) e (v) um dos argumentos internos se realiza sintacticamente por meio de um grupo preposicional mas muitos outros V. o exigem. É o caso, p.ex., de V. como SAIR( ela não quer sair de casa ); PARTIR (eles partem para Angola amanhã); IR( fui hoje a Lisboa ; vou ali e já venho); CHEGAR (ela acabou de chegar do supermercado ); GOSTAR( ela não gosta de morangos com açúcar ); CONTACTAR (eles não contactam muito com os vizinhos ) …

A tradição gramatical habituou-nos a designar algumas destas expressões como complementos circunstanciais, distinguindo os seus diferentes valores nocionais: lugar, modo, tempo, companhia, matéria, …. O que a tradição gramatical não fazia era a distinção entre os complementos que são argumentos internos do item lexical usado como Predicado Verbal, de realização sintáctica obrigatória e os complementos que apenas contribuem para a interpretação situacional, de realização sintáctica opcional.

(i) Moro em Lisboa (o grupo preposicional é argumento interno, é exigência semântica do V. MORAR, com resposta sintáctica; vd. intervenção de L.Filipe Ramos)

(ii) Ontem almocei em Lisboa (o grupo preposicional não é a resposta sintáctica a uma exigência semântica do V.ALMOÇAR. È mais um dado para a interpretação da situação. Não faz parte da estrutura argumental. É neste sentido que se utiliza a designação de Modificador do Grupo Verbal.

Para decidir se determinada expressão é Complemento ou Modificador, temos de verificar quais os elementos que dependem estruturalmente do item lexical que constitui o verbo e que têm realização sintáctica obrigatória e quais os que não dependem, concorrendo apenas para a interpretação situacional. Ao colega Virgílio Dias custa aceitar que a informação opcional inserida possa ser considerada “modificador” pois, na sua opinião, «só há modificador quando houver algo modificado».

(i) A bomba explodiu.

(ii) A bomba explodiu em Bagdad.

Será que a inserção do modificador em (ii) nada modifica?

Talvez o colega Virgílio tenha um entendimento demasiado restrito do termo “modificador” e julgue que, ao usá-lo, terá de pôr de parte as distinções nocionais dos chamados “complementos circunstanciais”, o que não é verdade, como muito bem lembraram o L.Ramos e a Filomena Viegas.

Resumindo e concluindo: todas as realizações linguísticas que ocupem posições não exigidas pela estrutura interna do grupo verbal desempenham a função sintáctica de modificador desse grupo verbal.

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